segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Tourada de muitas matizes, que entreteu os espectadores durante três horas. João Moura Caetano no conjunto das duas lides e João Augusto Moura, conseguiram o mais destacado da tarde/noite

Os espectadores que debaixo de um sol tórrido preencheram meia praça forte do tauródromo João Moura, em Monforte, no final de três horas de espectáculo não saíram defraudados.
Os touros da divisa dos Herdºs de João Lopes Teles Branco (Pinto Barreiros/Parladé), foram regulares de apresentação, força e comportamento, à excepção do primeiro de João Moura, mansote, parado e sem empurrar, não permitiu grande luzimento ao “maestro” de Monforte que esteve digno.

No segundo João Moura esteve a gosto, explanando todo o seu conhecimento da lide e do touro. Muito bem na eleição dos terrenos, nos cites e colocação da ferragem. Quando apertado saca dos seus galões e diz o porquê de se manter no toureio há tanto tempo e com os seus fiéis seguidores. Uma vez mais foi o “Califa de Monforte”, com o senhorio que se impõe... mas a humildade de quem sabe que continua a ser uma referência no toureio a cavalo mundial, esteve por cima das circunstâncias.
A Francisco Cortes notou-se que por momentos a quadra não esteve à altura de responder. Com a sua já larga experiência soube debelar essa situação. Se nas batidas do primeiro as reuniões foram quase sempre fora de cacho, subiu de nível com inteligência no segundo, ao não colocar o cavalo de frente nas sortes, elegendo os terrenos de dentro e pelo corredor deixar ferros como o violino que chegaram com força à bancada.
João Moura Caetano destacou-se da concorrência com o lote que lhe tocou. Embalado pelos recentes triunfos, como o de Setúbal, Moura Caetano deu vantagem ao primeiro naqueles dois compridos citando de praça-a-praça, com o touro a romper, aguentando para cravar com um ligeiro quiebro. O público estava no bolso, porque gosta de ver dar vantagem aos touros e pisar-lhe terrenos só quando necessário. Pese o encontrão que sofreu antes de colocar os curtos, esteve sereno e templado, aproveitando o andamento justo do “Lopes Branco”.
Pessoalmente não concordo com aquela volta à arena do representante da ganadaria. Primeiro porque deve ser o público a pedir, segundo porque uma volta à arena do ganadeiro (ou seu representante) deve-se ter em conta o conjunto da corrida e não um só touro. Isto, porque na maioria dos casos, vem o manso a borrar a pintura. Mas enfim são critérios e lá estava o meu Amigo Rogério Jóia para o permitir à luz do novo regulamento.
Também João Moura Caetano foi muito inteligente na lide do seu segundo. O touro tardo nas saídas, algo sonsote, citou-o sempre ou quase sempre, a favor dos terrenos dos curros e aí o touro rompia mais voluntarioso. João recreou-se nas sortes, fez pausas para o touro respirar e esteva acima de tudo em toureiro, o que nem sempre é fácil.
Os detractores do toureio a pé, a exemplo do que já tinha acontecido na Terrugem, perderam mais uma ocasião de presenciarem uma actuação de João Augusto Moura em novilheiro, como deve ser. É uma pena que o João tenha cortado a sua carreira. Sabemos quanto difícil é romper em Espanha e nós que o acompanhámos a par e passo nesse dia da sua apresentação em Sevilha, lamentamos que não tenha tido a sorte pelo seu lado. A sorte e todos os outros factores por vezes obscuros que reinam naquele complexo mundo do touro em Espanha. Vejamos o que está a acontecer aos nossos cavaleiros cada vez com menos oportunidades. É que os espanhóis são mais nacionalistas, ou passo que para nós, o que é estrangeiro é que é bom e vá de dar oportunidades no campo e nas praças...
Mas voltando à análise da prestação de João Augusto, começou logo pela eleição de um seu novilho com cara e presença de touro. Um castanho precioso que, embora nobre, faltou-lhe transmissão. Humilhava de início mas saia com a cara alta no final dos muletazos... e pouco recorrido.
João Augusto esteve assente, procurou sempre a colocação e com temple sacou bonitos muletazos por ambos os pitons (destaque para dois naturais profundos).
Com o novilho a vir a menos recorreu aos passes cambiados pelas costas para fechar o círculo e chegar às bancadas. Muito bem o novilheiro e muito bem o público que aplaudiu com entusiasmo esta lide do monfortense.
Uma referência também para aqueles que são muitas vezes injustamente esquecidos: a quadrilha. Dois excelentes pares de bandarilhas e muita subtileza ao poupar os lances com os capotes.
Para os Amadores de Monforte estava a tarefa de pegarem em solitário os seis touros na sua praça.
Três pegas ao primeiro intento na primeira parte do espectáculo era um bom augúrio, só que depois as coisas complicaram-se com a quarta pega que foi conseguida ao quarto intento já em dobra ao caras inicial que se lesionou.

Mais duas pegas ao segundo intento, sendo que uma delas assinalou o regresso de Luís Aranha, um forcado emblemático do grupo que depois de uma grave lesão num joelho, percorreu o “deserto” e voltou um ano e tal depois, com a mesma garra e entrega ao seu grupo, fechando-se ao segundo intento.
A organização do espectáculo foi dos Amadores de Monforte que contaram com os indispensáveis apoios autárquicos, pelo que o Presidente foi brindado pelos cavaleiros locais e pelos forcados.
Dirigiu o espectáculo o Delegado Técnico Rogério Jóia, assessorado pelo Médico-veterinário Dr. Guerra.


Fernando Marques|Fotos-Planeta dos Touros

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