quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Vivências: Eu e...José Luis Gonçalves

José Luís Gonçalves, a estética do toureio



Sempre me confessei aficionado ao toureio a pé, como diz o maestro Armando Soares. Quase sempre foi com os toureiros de a pé que me relacionei…e conheci os mais variados.
Sempre me senti atraído pelo toureio de “pellisco”, por isso sou “morantista” assumido, isto no que a Espanha diz respeito. Por cá, nem seria difícil adivinhar qual o toureiro da minha predilecção: José Luís Gonçalves.
Para além de ser o “meu” toureiro, tive o privilégio de o acompanhar desde aquela tarde de 1987 em que em Badajoz debutou sem picadores. Lembras-te José? Tu, eu e o Tinoca no pátio de quadrilhas. Guardo as fotos a negro que então te fiz. Era o início da “andadura taurina” do mais promissor toureiro das últimas décadas.
Depois, já bem mais tarde, veio o Carmelo Losada que indiquei ao Queirós… e as novilhadas sem cavalos. Seguiu-se o período mais bonito com o Manolillo de Valência. Os tentaderos que vivemos. A apresentação em Madrid com aquela crónica cantada de Vicente Zabala no ABC, que a todos nos fez sonhar e acreditar que era possível. Esse dibujo do valenciano Reus que imortaliza a tua meia verónica abelmontada
Por fim, chegou o dia sonhado da alternativa (19 de Março de 1994), precedido dos tentaderos e dos touros à porta fechada. As mil e uma vivências que, como aficionado, desfrutei com o teu toureio feito de estética, de mão baixa. Desse “pellisco” com que Deus te tocou.
Badajoz e os amigos de sempre na tarde mais importante. Aquele jantar organizado (pelos incondicionais) depois do doutoramento em tauromaquia. O gesto singular da família Losada que veio de Madrid para estar contigo nesse dia bonito.
Depois, um longo e penoso caminho, mas que valeu a pena viver. Só tu, nos momentos de reflexão, saberás se foi por infortúnio, falta de ambição ou pouca capacidade de sofrimento que fez com que não te tornasses toureiro importante e rico neste difícil mundillo.
Sofri a bom sofrer quando, em 2009, te vi fazer o paseillo na recôndita pracita de Santo António das Areias – entre a Beira Baixa e o Norte Alentejano – naquela que podia ter sido a tua triste despedida dos ruedos. Ainda bem que Rui Bento Vasquez teve o bom senso de te proporcionar, como profissional da mesma arte, esta despedida na primeira praça do país: o Campo Pequeno.
Com esta corrida de 26 de Agosto de 2010, encerrei este ciclo na minha vida de aficionado. Brindaste-nos com um toureio mais maduro, como se não acusasses a responsabilidade do momento. Toureio assente, de mão baixa, templado e com esse pellisco dos eleitos, como tens e continuarás a ter sempre que te coloques em frente de uma rês brava para toureares.
Vais ficar para sempre no baú das minhas recordações como aficionado mas, ao que sei, já anda por aí outro “torerito” que pode trazer esse “duende” genético para nos “envenenar” de mais ilusão. E vai começar um novo “sofrimento”. Quem sabe.

                                                O VIDEO DA DESPEDIDA



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