A triste realidade da Feira de S. Miguel em Sevilha

Quem como eu assistiu (Digital +) à última corrida da Feira de S. Miguel, por certo estará de acordo com a minha opinião. Em tempo de crise o público encher a Real Maestranza na expectativa de ver Morante, “El Juli” e Alfonso Oliva Soto foi a grande resposta dos aficionados face ao ataque à Festa. Houve toureiros mas faltaram os touros: os anunciados de Zalduendo, os de Irmãos S. Pedro e os de Gavira. Esta não é uma situação nova. O que abaixo transcrevo foi publicado em Agosto de 2004, na minha 5ª Coluna na Revista ”Novo Burladero” e não perdeu actualidade.




Morante impotente face à falta de casta dos touros
(Foto Maurice Berho) 

“Na actualidade, a grande maioria das ganadarias em Espanha tem procedência Domecq e, em alguns dos casos, este encaste está em baixa, aliás até se percebe o porquê da situação.

A aceitação por parte das figuras em lidar certas ganadarias fez com que os ganaderos de bravo optassem pelo toiro comercial, sobretudo o encaste Domecq. Hoje, pelo fenotipo distingue-se o toiro desta procedência. O toiro harmonioso, baixo, não passado de quilos, nobre a roçar o manso é o predilecto das figuras… e logo imposto pelos apoderados. É o toiro que também dá a cornada, mas é sem duvida aquele que menos incomoda, o toiro aborregado que aos poucos se foi seleccionando em detrimento do toiro encastado, fiero y con raza, e quando este sai… acaba-se com ele debaixo do cavalo.

Não se foi atrás da utopia del toro de los ojos verdes, como cantou o poeta e ganadero Fernando Villalón, mas antes atrás do toiro comercial, do vender vacadas e sementais por preços astronómicos aos novos ganaderos que encontraram neste campo a promoção social. (…)

Outro factor a ter em conta é a saturação. Como dizia Emílio Parejo, o público está farto de cavalo, sota e rei”.
É uma verdade tão cristalina como a água, e o público de Sevilha foi bastante benevolento com tanta pouca vergonha por parte da empresa, dos ganaderos e os toureiros que têm que se apontar a outros encastes.