sábado, 14 de agosto de 2010

Vivências – Eu e…”El Cordobés”

"El Cordobés numa volta ao ruedo triunfal em Burgos
Os toureiros e, neste caso os matadores de touros, para além da técnica que obviamente têm que dominar, da arte que possam levar dentro, sempre aliada à plástica e formas de interpretar lances e passes, distinguem-se uns dos outros pela sua personalidade.
Há no entanto um que, nos últimos anos, e possuidor de um nome quase diríamos de lenda, se distingue dos demais: Manuel Diaz “El Cordobés”. Personagem controverso, fora do toureio ortodoxo (como já o foi o seu presumível pai Manuel Bénitez) mas que tem cimentado uma já longa carreira.
Lançado nos seus inícios pelo não menos controverso empresário e taurino Paco Dourado, “El Cordobés” conquistou um espaço próprio dentro do toureio actual.
Toureiro popular ou populista, como se queira, Manuel Diaz transmite nos ruedos uma certa frivolidade, quase que uma”profanação” daquilo que deve ser o toureio ortodoxo.
Figura indispensável nos cartéis de feiras de menor importância, não deixa de ter o seu público, e quando prescinde dos desplantes como o “salto de la rana” e outros que improvisa no momento, tem o condão de chegar ao público que vai aos touros para se divertir e “pasarlo bien” como dizem os espanhóis.

O autor com "El Cordobés na Ilha Terceira/Açores
Tive o privilégio de privar com este personagem nas Sanjoaninas na Ilha Terceira, já no longínquo ano de 1997. Depois de sermos apresentados na Residencial Cruzeiro, onde estávamos instalados, “El Cordobés” inteirou-se que eu tinha carro e, com a sua espontaneidade, pediu-me se eu não o levava a dar uma volta pela ilha.
Passámos uma manhã juntos percorrendo os locais mais importantes da Ilha Terceira. Esse convívio, embora fugaz deu-me oportunidade de lhe fazer perguntas como a relativa à suposta paternidade atribuída a Manuel Bénitez. Respondeu-me sem rodeios dizendo que, como qualquer filho, ficaria feliz de que o pai o reconhecesse como filho mas, como infelizmente não tinha sido possível, respeitava-o como figura do toureio que foi mas, ele, Manuel Diaz “El Cordobés”, apodo que ostenta legalmente, continuaria a sua vida como homem e toureiro.
Nessas horas de convívio revelou-se-me uma pessoa com um sentido humanista extraordinário, com um bom senso digno de registo, não só quanto à sua profissão como a tudo que o rodeia. Quanto à sua profissão confessou-me que se interpretasse o toureio mais ortodoxo, como ele haviam muitos em Espanha, por isso ao ser Manuel Diaz “El Cordobés” tinha um selo próprio... e logo diferente. Isto não impedindo que, sempre que se proporcionasse toureasse de forma mais sentida, aquela que cada toureiro leva dentro. Manuel Diaz “El Cordobés” uma personalidade que me tocou conhecer e com ele conviver, ainda que fosse num único dia. Mais tarde encontrámo-nos no Campo Pequeno e recordámos estes momentos que vivemos na Ilha Terceira, essa ilha bela e aficionada.



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