domingo, 16 de outubro de 2016

Zaragoza – Os “anti-taurinos” num palco presidencial

Aquilo a que se assistiu (Canal +) ontem na Praça de Touros de Zaragoza, com aquele Presidente a decidir de forma vergonhosa o prémio a conceder a quem joga a vida frente a um touro, é do mais anti-taurino que pode haver. Ao espectáculo dos touros chama-se Festa, porque é isso mesmo. Um Homem frente a um touro que joga a sua própria vida para criar arte. Sim arte, porque se assim não fosse, não inspirava ao longo dos séculos, pintores, poetas, escritores, dos quais reza a história.
Aquele senhor, que é nomeado pelo Ministério que manda nos polícias, pode até nem ser aficionado mas, ao seu lado, tem assessores veterinários e um assessor taurino, para o elucidar sobre a actuação do toureiro. Portanto, aqui tanto mal fez à Festa ontem o Presidente, como o seu assessor taurino.
A corrida de ontem em Zaragoza, foi daquelas atípicas, cujo destino foi modificado por decisões, que prejudicaram Talavante e Padilla.
A estes senhores, faltou-lhes a sensibilidade, o bom senso perante a colhida logo no primeiro touro de Juan José Padilla que, nesta mesma praça, esteve quase a perder a vida à quatro anos atrás, e ontem voltou a ser colhido, deixando-nos a todos por momentos aquela triste recordação.
Padilla é um exemplo de superação (goste-se ou não do seu toureio), um exemplo de lutador, que acreditou que depois daquela tragédia, um dia voltaria a vestir-se de luces e pisar aquele ruedo. Não merecia não só por isso, mas também, pela sua entrega total, depois de sair da enfermaria para lidar o sexto e último touro, aquela decisão do palco presidencial.
Talavante esteve cumbre em duas faenas e merecia ter saído pela porta grande. Depois de estar sublime com o capote, uma faena de antologia e matar com uma estocada fulminante, que mais era preciso para sair a ombros.
Morante de La Puebla é isso mesmo: Morante. A sua filosofia como toureiro artista é que não vale a pena “tirar água de um poço seco”. Se o touro não tem condições de lide que lhe permita expressar o seu toureio, há que abreviar a lide. Infelizmente hoje, lá como cá, há mais público do que aficionados, que pensam que todos os touros têm possibilidades de uma lide que não casa com o conceito de Morante. Por isso mesmo sou “morantista” confesso.
José António escutou no segundo que lidou uma tremenda bronca. Teve no entanto, essa classe de figura para no seu último, transformar as lanças em canas, ou seja, a bronca do segundo na tremenda ovação, quando lidou o seu terceiro (primeiro era de Padilla), com esse temple, essa estética de um eleito e que faz dele uma figura imprescindível na Festa.
No final os três matadores atravessaram a arena ao mesmo tempo, dando uma “bofetada de luva branca”, àquele “anti-taurino” palco presidencial que abandonou os lugares debaixo de uma bronca maior do que escutou Morante, dos aficionados e público de Zaragoza.
São estes indivíduos os verdadeiramente perigosos para a Festa. Os que têm o poder de decidir, contra a opinião de 10.000 criaturas que enchiam a praça e pagaram o seu bilhete.
(fotos- Simón Casas Production)

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