terça-feira, 3 de dezembro de 2013

"Os encastes minoritários" - Por vezes é incómodo abordar a realidade com todas as palavras

No dia 23 de Junho de 2006, escrevi este artigo para a 5ª Coluna que mantive ao longo de alguns anos na Revista Novo Burladero, passados todos estes anos a sua actualidade é premente.
Sou um fã incondicional do programa "Kikiriki" do Canal Plus, conduzido por David Casas e que ontem mesmo Elena Salamanca, confessou que estão a encontrar alguns problemas na obtenção de testemunhos para o programa. É que estão a bordar assuntos sérios da Festa dos Touros, como no último programa "Os encastes minoritários" e isso causa algum incómodo no sector.
Este foi o artigo que escrevia e que aqui fica.

A Festa corre perigo!

Na actualidade, a grande maioria das ganadarias em Espanha tem procedência Domecq e, em alguns dos casos, este encaste está em baixa, aliás até se percebe o porquê da situação.
A aceitação por parte das figuras em lidar certas ganadarias fez com que os ganaderos de bravo optassem pelo toiro comercial, sobretudo o encaste Domecq. Hoje, pelo fenotipo distingue-se o toiro desta procedência. O toiro harmonioso, baixo, não passado de quilos, nobre a roçar o manso é o predilecto das figuras… e logo imposto pelos apoderados. É o toiro que também dá a cornada, mas é sem duvida aquele que menos incomoda, o toiro aborregado que aos poucos se foi seleccionando em detrimento do toiro encastado, fiero y con raza, e quando este sai… acaba-se com ele debaixo do cavalo.
Não se foi atrás da utopia del toro de los ojos verdes, como cantou o poeta e ganadero Fernando Villalón, mas antes atrás do toiro comercial, do vender vacadas e sementais por preços astronómicos aos novos ganaderos que encontraram neste campo a promoção social.
Estes novos ganaderos que vão ao ponto de afirmar, como escutei recentemente a uma ganadera, que os seus toiros lidados em determinada corrida estavam desidratados, não lhes tinham dado água e por isso caíam e não investiam; tinham feito muitos quilómetros de viagem e muitas horas de chiqueiros. Já ouvi chamarem muita coisa há falta de casta, agora desidratados foi a primeira vez.
Outro factor a ter em conta é a saturação. Como dizia há dias Emílio Parejo, no Canal Sur, o público está farto de cavalo, sota e rei. É uma verdade tão cristalina como a água.
Nas grandes feiras e cartéis são sempre os mesmos. Estão mais que vistos e não dão passo a novos toureiros. Esses sim que podem ser novidade e revitalizar a festa dos toiros. Há um cansaço apesar da indiscutível maestria de Ponce, El Juli deixou de ser o mais taquillero, Finito está acomodado, Morante foi-se embora (nesta data), Rivera Ordóñez é insípido e rotineiro (já afastado), etc, etc.…
Este é o exemplo espanhol, cuja tradição multissecular e extensão geográfica poderia evitar a saturação, só que hoje com as televisões os toureiros estão mais expostos.

De Portugal nem vale a pena falar. Geograficamente em termos taurinos somos um “quintal”. O número de corridas aumenta de ano para ano, mas as praças estão quase sempre com muito do cimento das bancadas à vista. Os cartéis são repetitivos e falta imaginação e capacidade às empresas, na sua grande maioria sem vocação para esta área.      

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