Sou um fã incondicional do programa "Kikiriki" do Canal Plus, conduzido por David Casas e que ontem mesmo Elena Salamanca, confessou que estão a encontrar alguns problemas na obtenção de testemunhos para o programa. É que estão a bordar assuntos sérios da Festa dos Touros, como no último programa "Os encastes minoritários" e isso causa algum incómodo no sector.
Este foi o artigo que escrevia e que aqui fica.
A Festa corre perigo!
Na actualidade, a grande maioria das ganadarias em Espanha
tem procedência Domecq e, em alguns dos casos, este encaste está em baixa,
aliás até se percebe o porquê da situação.
A aceitação por parte das figuras em lidar certas ganadarias
fez com que os ganaderos de bravo optassem pelo toiro comercial, sobretudo o
encaste Domecq. Hoje, pelo fenotipo distingue-se o toiro desta procedência. O
toiro harmonioso, baixo, não passado de quilos, nobre a roçar o manso é o
predilecto das figuras… e logo imposto pelos apoderados. É o toiro que também
dá a cornada, mas é sem duvida aquele que menos incomoda, o toiro aborregado
que aos poucos se foi seleccionando em detrimento do toiro encastado, fiero y con raza, e quando este sai…
acaba-se com ele debaixo do cavalo.
Não se foi atrás da utopia del toro de los ojos verdes, como cantou o poeta e ganadero
Fernando Villalón, mas antes atrás do toiro comercial, do vender vacadas e
sementais por preços astronómicos aos novos ganaderos que encontraram neste
campo a promoção social.
Estes novos ganaderos que vão ao ponto de afirmar, como
escutei recentemente a uma ganadera, que os seus toiros lidados em determinada
corrida estavam desidratados, não lhes tinham dado água e por isso caíam e não
investiam; tinham feito muitos quilómetros de viagem e muitas horas de
chiqueiros. Já ouvi chamarem muita coisa há falta de casta, agora desidratados
foi a primeira vez.
Outro factor a ter em conta é a saturação. Como dizia há
dias Emílio Parejo, no Canal Sur, o público está farto de cavalo, sota e rei. É
uma verdade tão cristalina como a água.
Nas grandes feiras e cartéis são sempre os mesmos. Estão
mais que vistos e não dão passo a novos toureiros. Esses sim que podem ser
novidade e revitalizar a festa dos toiros. Há um cansaço apesar da indiscutível
maestria de Ponce, El Juli deixou de ser o mais taquillero, Finito está acomodado, Morante foi-se embora (nesta data), Rivera
Ordóñez é insípido e rotineiro (já afastado), etc, etc.…
Este é o exemplo espanhol, cuja tradição multissecular e
extensão geográfica poderia evitar a saturação, só que hoje com as televisões
os toureiros estão mais expostos.
De Portugal nem vale a pena falar. Geograficamente em
termos taurinos somos um “quintal”. O número de corridas aumenta de ano para
ano, mas as praças estão quase sempre com muito do cimento das bancadas à
vista. Os cartéis são repetitivos e falta imaginação e capacidade às empresas,
na sua grande maioria sem vocação para esta área.
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