Acordei sobressaltado. Tinha adormecido sentado no cómodo
sofá – aquele que sempre elegemos – junto à lareira, lugar onde se está a
gosto.
O lume crepitava, aquecendo este prelúdio de Inverno que
se adivinha rigoroso neste Alentejo.
No colo, aberto, o livro “Viagen a los Toros del Sol” que
tinha elegido para reler, também ele nos fala desses invernos de rigor extremo
no Campo Charro.
Sempre guardei na memória de aficionado aquela frase «...
sentia o frio trespassar-me os pés através das botas rotas de tanto caminhar
pelo Campo Charro... »
Alfonso Navalón, crítico, cronista, escritor, ganadero e
aficionado prático, foi figura polémica de uma época em que no toureio (como
hoje) certo sector da crítica taurina funcionava com o famigerado envelope...
É, no entanto, inegável a sua capacidade como escritor, e
este livro que agora comecei a folhear de novo dá conta disso mesmo. Dos campos
de Salamanca às marismas do Guadalquivir transporta-nos com magia por
ganadarias de solera e casas senhoriais, de ganaderos que sabiam receber
(alguns talvez a contragosto abriram as portas ao polémico personagem), com
esta leitura tornam-se mais agradáveis as intermináveis noites.
Terminada a temporada é isto que me espera neste “rincón”.
O defeso parece-nos sempre longo!
As tertúlias aqui quase não existem. O alentejano, nesta
época do ano, não é muito dado a saídas. É mais de casa. A braseira ou a
chaminé são os lugares predilectos para passar os longos serões.
Tenho a sorte de ter aqui por perto o António José
Zuzarte, com quem por vezes me encontro e colocamos a conversa de aficionados
em dia.
Longe do centro aficionado português, mas perto de Badajoz
(30 minutos), sempre encontro um que outro toureio ou ganadero, junto à barra
do Hotel Rio. Depois da tapa e da caña é a visita quase que
obrigatória aos livros na planta baja do El Corte Inglês.
Os campos começam a estar verdes. Bom prenúncio para as
vacadas. Aqui estendo a vista pela de Francisco Romão Tenório quando me dirijo
até lá Codosera, já a do Dr. Ortigão Costa está ali mesmo junto à estrada
quando a viagem é até Badajoz.
Afinal não me posso queixar. Boa leitura em ambiente
acolhedor, ganadarias e Espanha aqui ao pé... rapidamente vai passar o defeso.
(Artigo escrito em 2004 na 5ª Coluna da Novo Burladero)
Sem comentários:
Enviar um comentário