quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O defeso do aficionado

Acordei sobressaltado. Tinha adormecido sentado no cómodo sofá – aquele que sempre elegemos – junto à lareira, lugar onde se está a gosto. 
O lume crepitava, aquecendo este prelúdio de Inverno que se adivinha rigoroso neste Alentejo.
No colo, aberto, o livro “Viagen a los Toros del Sol” que tinha elegido para reler, também ele nos fala desses invernos de rigor extremo no Campo Charro.
Sempre guardei na memória de aficionado aquela frase «... sentia o frio trespassar-me os pés através das botas rotas de tanto caminhar pelo Campo Charro... »
Alfonso Navalón, crítico, cronista, escritor, ganadero e aficionado prático, foi figura polémica de uma época em que no toureio (como hoje) certo sector da crítica taurina funcionava com o famigerado envelope...
É, no entanto, inegável a sua capacidade como escritor, e este livro que agora comecei a folhear de novo dá conta disso mesmo. Dos campos de Salamanca às marismas do Guadalquivir transporta-nos com magia por ganadarias de solera e casas senhoriais, de ganaderos que sabiam receber (alguns talvez a contragosto abriram as portas ao polémico personagem), com esta leitura tornam-se mais agradáveis as intermináveis noites.
Terminada a temporada é isto que me espera neste “rincón”. O defeso parece-nos sempre longo!
As tertúlias aqui quase não existem. O alentejano, nesta época do ano, não é muito dado a saídas. É mais de casa. A braseira ou a chaminé são os lugares predilectos para passar os longos serões.
Tenho a sorte de ter aqui por perto o António José Zuzarte, com quem por vezes me encontro e colocamos a conversa de aficionados em dia.
Longe do centro aficionado português, mas perto de Badajoz (30 minutos), sempre encontro um que outro toureio ou ganadero, junto à barra do Hotel Rio. Depois da tapa e da caña é a visita quase que obrigatória aos livros na planta baja do El Corte Inglês.
Os campos começam a estar verdes. Bom prenúncio para as vacadas. Aqui estendo a vista pela de Francisco Romão Tenório quando me dirijo até lá Codosera, já a do Dr. Ortigão Costa está ali mesmo junto à estrada quando a viagem é até Badajoz.

Afinal não me posso queixar. Boa leitura em ambiente acolhedor, ganadarias e Espanha aqui ao pé... rapidamente vai passar o defeso. (Artigo escrito  em 2004 na 5ª Coluna  da Novo Burladero)

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