sábado, 2 de abril de 2016

“Sevilla es cosa nuestra”

Li em alguma imprensa da especialidade espanhola, considerações e comentários sobre o regresso de Morante a Sevilha. Passada a polémica da recusa das primeiras figuras actuarem no Coso de Baratillo, este ano a feira era (é) aguardada com grande expectativa.
Assim já no Domingo de Ressurreição, os tendidos estavam repletos de um público ansioso em especial pelo regresso de Morante de La Puebla.
Se o primeiro touro não serviu para o de La Puebla, já o segundo permitiu grandes momentos a José António. De tal forma que prolongou demasiado a faena no afã de poder eventualmente cortar duas orelhas ao touro. No final esgotou-se o tempo, soaram os três avisos e foi vivo para o curral (em sentido figurado, já que tem que ser apuntilhado no ruedo) e estalou a bronca. Não foi uma daquelas broncas habituais em outras praças. Foi uma bronca com um misto de reconhecimento pela faena e entrega de Morante e, ao mesmo tempo, o inevitável desagrado de ver um touro lidado e sem o remate da faena: a estocada ou descabelho final.
No final da corrida a sensibilidade da grande maioria do público presente na Real Maestranza veio provar que Sevilha é diferente e aplaudiu Morante de La Puebla.
Perguntarão os aficionados se este é um comportamento normal por parte do público. Direi que não… em outra praça.
Isto faz-me recordar já há muitos anos, talvez final dos anos setenta início dos oitenta, em que tínhamos um grupo de amigos/aficionados que todos os anos íamos a Sevilha pela Feira de Abril.
Era então usual num barco (Margarita II) ancorado na margem direita do Guadalquivir, realizarem-se colóquios após as corridas. Estes colóquios eram promovidos por Manolo Vidal, Carlos Rojas e Rafael Moreno, que foi jornalista e apoderado de Espartaco.
Recordo um desses colóquios em que acompanhado do meu Amigo e Maestro Armando Soares, fomos assistir depois de uma corrida em que Curro Romero esteve fatal, mesmo de cabeça. Durante o colóquio havia o debate com os presentes. No chão (porque não tínhamos lugar sentado), ao meu lado, recordo estava sentado o Marquês de Albasserada, com o seu cabelo já grisalho. Incentivado pelo Maestro Armando Soares a colocar uma questão, perguntei já não recordo a qual dos três, se não era desmotivante para um aficionado como eu, vir de Portugal e deparar-me com uma tarde fatal de Curro Romero, que não fez o mais pequeno esforço, nem para uma faena de alinho. A resposta veio pronta e nunca mais a esqueci: Curro Romero e Sevilla es cosa nuestra. Na realidade hoje por hoje, Morante e Sevilha continuam a ser algo diferente.

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