quinta-feira, 14 de abril de 2016

"Manuel dos Santos - O Homem e o Toureiro" apresentado no Centro Interpretativo Tauromáquico de Monforte

Não sou muito dado a protagonismos. Gosto de estar no meu canto tranquilo e desfrutar da Festa. Da Festa que eu amo, não desta actual. Daí o meu afastamento de muitas das touradas. Há no entanto coisas na vida às quais não podemos dizer que não. Quando o meu amigo Sérgio Batista me telefonou, há já algum tempo, para fazer a apresentação no Centro Interpretativo Tauromáquico de Monforte do livro "Manuel dos Santos - O Homem e o Toureiro", da autoria de seu filho Manuel Jorge dos Santos, disse de imediato que podia contar comigo.
Isto, porque o aficionado que sou hoje, deve-se precisamente ao meu encontro prematuro com a figura incontornável de Manuel dos Santos. Nascido e criado até aos 13 anos em Estremoz, com as influências que sofri nesse meio, hoje seria concerteza um aficionado incondicional à tourada à portuguesa. Não a renego, mas confesso-me acima de tudo, aficionado ao toureio a pé. Ao toureio eterno, de onde bebeu e continua a beber toda e qualquer forma de expressão artística nas arenas do mundo taurino.
Daí ter começado a minha intervenção na apresentação desta obra, com uma declaração de interesses, para que não houvesse dúvidas que não estava a falar com paixão de Manuel dos Santos, por uma questão de gentileza perante este acto.
Abreviando, para não ser juiz em causa própria, o meu encontro deu-se com Manuel dos Santos, precisamente quando tinha 12 anos (já no seu regresso às arenas em 1960) e o meu pai, natural de Montijo, levou-me a ver uma corrida pelo São Pedro em que toureou Manuel dos Santos e Curro Girón, frente a touros de Oliveiras. Para uma criança como eu, que podia ficar indiferente ao que se passava na arena, aquilo mexeu comigo. Foi uma sensação estranha ver a figura de Manuel dos Santos, com uma muleta, submeter o touro naquelas semi-circunferências, como que enroscando o animal ao seu próprio corpo. Aquele conjunto de homem/artista e o animal bravio, causou-me sentimentos pouco comuns para uma criança. Eu queria um dia ter coragem para fazer aquilo. Vestir aquele facto a brilhar à luz do sol de Junho e escutar os aplausos das gentes em delírio.
Quis o destino que no ano seguinte, por questões profissionais do meu pai fosse viver para o Montijo. Nessa terra de aficionados como Amadeu Augusto dos Santos, José Salgado de Oliveira, António Tavares Jr., Isidoro Maria de Oliveira, António Rasteiro ou Joaquim Lucas, fui bebendo ensinamentos e a relacionar-me com toureiros.
Manolo Corrêa Flores, esse espanhol de Puerto de Santa Maria, amigo e companheiro de jornadas - com idade para ser meu pai - ensinou-me a pegar num capote e numa muleta. Ensinou-me os mandamentos básicos do toureio e a técnica, mas faltou-me o valor e a arte de Manuel dos Santos.
Aqui em Monforte nesta tarde, perante o filho do meu ídolo, do Presidente da Câmara de Monforte, de José Tinoca (um dos bandarilheiros da “Quadrilha Maravilha” de Manuel dos Santos em conjunto com Manuel Barreto e Manuel Badajoz), Paulo Caetano, do meu querido Amigo Vitor Escudero e demais aficionados, senti-me como um velho toureiro que, passados muitos anos, confirmava a sua alternativa num ruedo importante.
Obrigado a todos pela paciência que tiveram em escutar-me falar de Manuel dos Santos. Falar do toureio, do empresário e ganadeiro e, sobretudo, agradecer como aficionado a Manuel Jorge dos Santos, o plasmar em livro as suas vivências com o seu progenitor e recordar-nos quem foi como toureiro. Como bem disse o autor de "Manuel dos Santos - O Homem e o Toureiro", esta obra se mais não fôra, serve para avivar a memória dos velhos aficionados e lembrar aos mais jovens quem foi seu pai e a importância que teve como figura do toureio mundial e empresarial.

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