domingo, 5 de julho de 2015

Portalegre - Noite de grandes emoções na Homenagem a Paulo Caetano

Apenas o efémero Interessa à Imprensa. Quanto mais importância substantiva e perdurável tiver uma coisa ou pessoa, tanto menos falarão dela os jornais, e, em troca, destacarão nas suas páginas o que esgota a própria essência em ser um «sucesso» e em dar margem a uma notícia. Pensamento de Ortega y Gasset, filósofo, pensador e aficionado. Esperamos que este pensamento não seja a circunstância limitadora do que se passou em Portalegre. Isto porque foi na realidade um acontecimento que não deve ficar-se pelo efémero.
Foi a homenagem pelos 35 anos de carreira de Paulo Caetano; a tourada da Associação dos Agricultores de Portalegre; duas ganadarias do distrito e três grupos de forcados deste mesmo distrito eram motivos mais do que suficientes, para não se ficar por aquela meia praça preenchida em noite de princípio de mês e de temperatura de verão.
Depois da exibição de dressage do PCI (Paulo Caetano Internacional), entrou-se na tourada propriamente dita. Com a lide de um touro de Maria Guiomar Cortes Moura. Um touro com aquele tranco, aquele galope cadenciado que Paulo Caetano aproveitou, para como num desfolhar de memórias se pudesse rever, por momentos, o toureio do cavaleiro nascido em Almada e que se tornou “alentejano” por opção. Aqui criou família, negócios e laços de amizade que o tornam num mais entre os seus pares.
 Demonstração durante a lide desse pozo como dizem os nuestros hermanos, que é como quem diz, essa harmonia, saber estar diante. As pausas, os cites, o temple de um toureio que reúne o clássico acompanhando a evolução através dos tempos que, obviamente, soube como “Gallito” absorver de Belmonte. No final Paulo Caetano era um homem feliz.
Posto isto analisemos o comportamento dos touros da sua própria ganadaria. O melhor lote tocou a João Telles Jr., já João Moura Caetano teve que se enfrentar com as dificuldades do primeiro a defender-se em tábuas, de onde lhe custava sair. Tiveram todos, e o de cinco anos ainda mais, esse bom princípio para depois, como diria Antoñete cerrar las persianas, defendendo-se nos terrenos de dentro, impondo grandes dificuldades quer nas lides, como nas pegas.
Os forcados estiveram enormes face às dificuldades que os touros patenteavam. Houve excesso de capotazos por parte das quadrilhas que, por vezes, são investidas que se “roubam” ao touro e dificuldades acrescidas para os forcados, quando o recomendável é dar os estritamente necessários.
Todos reconhecem em Rui Fernandes um toureiro de entrega, com a experiência acumulada em muitas praças e feiras importantes de Espanha. O seu primeiro touro foi reservado, se bem que de início até saia para os terrenos de fora, indo depois a menos. Rui de início teve as batidas muito pronunciadas, rectificou e terminou em bom plano, sobretudo com aquele ferro em que citou dos tércios para as tábuas deixando um emocionante e arriscado ferro.
Com o segundo as coisas não começaram da melhor forma com uma colhida logo de início. O touro esperava, adiantava-se às montadas e buscou os médios, resguardando-se ao castigo. A entrega, uma boa quadra e o conhecimento da lide, fez com que acabasse por cima do touro com uma lide que rematou com um bom ferro de palmo em terrenos de compromisso.
João Moura Caetano, vindo de triunfar no Montijo, não foi bafejado com o lote dos touros da sua casa. O primeiro foi muito complicado, fechando-se em tábuas de onde não havia forma de o fazer sair. A solução não é nova e os ferros a sesgo são um recurso e uma sorte emotiva quando bem executada. Isso aconteceu numa dessas sortes em que atacou o touro e deixou um bom ferro. Cinco anos tinha o seu segundo, com sentido, mas mais voluntarioso nas primeiras investidas. João teve uma lide mais conseguida se bem que o touro veio a menos no final.
João Telles Jr. não foge aos cânones da “Escola da Torrinha”, mas tem nos seus géneses aquilo que foi o seu pai enquanto toureiro. Esse sentido da improvisação, esse conceito mais artístico. Recebeu o primeiro muito bem, tentando fixá-lo nos médios. O touro foi mais colaborador e João deixou ferragem correcta, com entradas mais rectas e cingidas. Para a lide do segundo optou por entrar nas batidas, tirando o touro para fora e por vezes não podendo deixar o ferro. Apercebeu-se que essa não era a lide que o touro tinha. Rectificou os processos e foi de menos a mais a sua lide. Para terminar deixou dois ferros em sorte de violino que levou o público a aplaudir com fervor.
Indubitavelmente a noite foi dos forcados pelo seu estoicismo. Duas pegas a destacar a primeira dos Amadores de Arronches através de Fábio Mileu e a última do grupo de Portalegre através de Ricardo Almeida. Pegaram ainda por Portalegre, André Neves (1ª) e António Cary (1ª). Paulo Florentino do Grupo de Arronches fechou-se rijamente ao segundo intento.
O lote mais duro tocou aos Amadores de Monforte, com Vítor Carreira à segunda em sorte sesgada e Nuno Toureiro à terceira com estoicismo em terrenos dos curros.
Dirigiu sem se fazer notar, o que é revelador de acerto, Marco Gomes, assessorado pelo médico veterinário Dr. Guerra.












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