Não difere das jovens da sua idade. À beira dos 16 anos, frequenta o 10.º ano, é uma aluna do meio da tabela que gosta de biologia (quer ser veterinária), e confessa más relações com o inglês. Nasceu em Salvaterra de Magos, tem os cabelos acobreados, é calma, suave nos gestos e escassa nas palavras. Gosta de discotecas e de se distrair com as amigas, chama-se Ana (Cristina Marramaque) Batista, dá cor a estas páginas, e quase estaríamos conversados se… Se ela não fosse cavaleira tauromáquica.
Por ora a Ana Batista é amadora, mas, atenção, a menina é das tesas, monta bem, tem sentido de lide, é certeira na cravagem dos ferros e não se intimida com os toiros. Isto vi eu.
Como tudo tem um princípio saiba-se que Ana Batista monta desde os oito anos de idade, prática facilitada pelo facto do seu pai, João Batista – também o mais entusiasta dos admiradores –, ser criador de cavalos. Daí a contrair o “vírus” da aficion foi um pulinho. A “doença” agravou-se quando o pai vendeu um cavalo a mestre David Ribeiro Telles, e surgiu o convite para a Ana frequentar a universidade da Torrinha. Que foi boa aluna, está à vista no seu jeito de montar e de estar em praça.
A rodagem pelas arenas não é doçura para quem começa e quer sair do “banco”. Vantagens da Ana Batista são as boas maneiras no ofício e a intuição que não se inventa. Admite-se, pois, que cartéis de maior gabarito sejam coisa de pouca espera.
Airosa, bonito traje curto de saia aberta, toureira com determinação, sem perder os agradáveis preceitos de gentil amazona, bem ilustrados no rematar das sortes, facto esquecido por muitos cavaleiros de alternativa, que galopam para o aplauso, deixando a sorte mal aviada. Mas isso são contas de outro rosário.
Para além de mestre David, também António Maria Brito Paes e João Cortesão, o apoderado, são culpados do sucesso da toureira, que se faz acompanhar de uma quadra de seis corcéis, onde o preferido é, por sinal, o mais antigo, o Trovão, com ferro da casa.
Cabe perguntar se o toureiro não passará de um deslumbre passageiro para uma moçoila de 16 anos, que se torna sensível à popularidade? Será este mesmo o ofício, e arte, uma actividade para continuar? Responde a Ana Batista.
“Estou com ideias de levar o toureio a sério, ir para a frente, embora em tempo de aulas só posso treinar aos fins-de-semana, e uma outra vez a meio da semana”. E se aparece (ou já apareceu) um namorado de pouca afición, lá se vai a carreira… “Não vai, não”. A sério? “A sério que não!”.
Afirmando-se consciente das suas capacidades, a jovem acha que merece mais oportunidades, e, sobretudo, quer competir com cavaleiros de maior nomeada. Diz-mo sem peneiras, tranquila, do mesmo modo que me olha nos olhos, num misto estranho de timidez e confiança.
Acredito, Ana, menina bonita de Salvaterra, que justifiques o destaque que hoje te dedicamos.
Manuel Vieira, IN NOVO BURLADERO
Junho 1994
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