terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mais além da praça cheia e da recolha de assinaturas

Passada que está a euforia legítima desta jornada em Santarém, e se aproxima o fim desta temporada com o seu encerramento “oficial” no Cartaxo, importa que todos os que fazem parte do Planeta dos Touros, empresários, ganadeiros, toureiros, forcados e, em especial o público, mantenham na temporada de 2011 o mesmo empenhamento.
Todos os aficionados devem estar gratos ao Dr. Moita Flores por esta sua iniciativa. É legítimo o seu contentamento e emoção na recolha das mais de 50.000 assinaturas.
Mas não nos deixemos enganar, o futuro do espectáculo dos touros passa, infelizmente, pela vontade dos políticos que nos governam, em Portugal, em Espanha e em todos os países onde esta tradição está enraizada nos seus cidadãos. E todos nós sabemos que há sempre a tendência de não respeitar as minorias. Por isso é importante esta petição pública na Defesa da Festa dos Touros, no aspecto político. Para além desta iniciativa da recolha das assinaturas, dos milhares que se deslocaram a Santarém, o problema é mais profundo.
Pessoalmente penso que o caminho a seguir não está na promoção de touradas em que o “cabeça” de cartaz é o preço do bilhete a 1 Euro. Esta pode ser uma faca de dois gumes porque, qualquer dia, teremos os anti-taurinos a dizer que as praças só se enchem porque estamos a “oferecer” as entradas. Os bilhetes devem ter o preço justo para que os empresários possam fazer face aos encargos assumidos, salvaguardando dois aspectos: o preço para a juventude - porque são o futuro da festa - e dos idosos deste país, porque cada vez têm menor poder de compra.
Recordo-me da célebre iniciativa “Sou português sou Aficionado” em que na altura escrevi não partilhar deste slogan. Ser português não quer dizer que, forçosamente, se tenha que ser aficionado. A questão está no respeito, ou seja, o importante é respeitar a liberdade de cada um de poder eleger sem que seja injuriado pelos seus contrários. Um principio da democracia: respeitar para ser respeitado. Os aficionados não têm que ter essa indicação no seu B.I. nem andar com um carimbo na testa. Ou mais grave, não ter vergonha de o ser…
O espectáculo dos touros tem, no seu interior, problemas mais urgentes para resolver (em Portugal menos) que a todos nos devem preocupar.
O touro é o pilar mais importante da Festa, sem ele a festa pura e simplesmente não pode existir. Assim sendo, há que começar por aqui. O ganadeiro deve seleccionar o touro com casta, com bravura, ou até essa fiereza muitas vezes proclamada pelos mais puristas. O touro não pode andar a passo atrás dos cavalos sem transmitir, o touro tem que ter a força suficiente para dar brilho às pegas; o touro não pode cair na praça em frente a um público que vai à procura da emoção deste espectáculo; o touro não pode cair porque com ele cai a própria Festa. É confrangedor ver um touro caído numa arena, impotente para desenvolver a sua natural agressividade pela manipulação genética a que pode ser submetido.
Os toureiros têm que o ser por vocação, não por imposição familiar ou por estar na moda. Os toureiros, dentro do conceito tauromáquico de cada um, têm que levar às bancadas a emoção, a sensação de que esta é uma profissão que não está ao alcance de todos.
Os empresários, os verdadeiros empresários, têm que montar espectáculos com critério e não como se fosse uma troca de cromos. E para que tudo isto resulte é necessário, sobretudo, que o público e o aficionado, que são coisas diferentes, não se sintam enganados. Em suma, na prespectiva da próxima temporada, afectada por uma crise transversal, exige-se um esforço e moderação de todos: ganadeiros, empresários, toureiros e público. Na minha modesta opinião e, se calhar na da grande maioria dos aficionados, o futuro da Festa passa por aqui.

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