domingo, 18 de junho de 2017

A morte trágica de Iván Fandiño deve ser motivo de reflexão

A trágica colhida de ontem em Aire Sur L’Adour de Iván Fandiño, que abriu a Porta Grande desse Céu para onde vão os toureiros terminar na eternidade desse ruedo onde ao longo dos séculos se encontram já cerca de duas centenas dos homens que envergam o traje de luces, deve ser motivo de reflexão por parte dos verdadeiros aficionados.

Diz essa velha placa na Escola de Toureio de Madrid, que os políticos querem extinguir, que “Se ser toureiro é difícil, ser figura é quase um milagre”. Iván Fandiño tinha bem a noção dessa dificuldade, com a agravante de ser um toureiro de Vizcaia (Orduña), um toureiro basco, de onde saem poucos toureiros. Foi a ferro e fogo, fazendo o duro caminho dos encierros e tapias da Serra de Madrid e do vale do Terror que abriu caminho.
Vivia 24 horas por dia para a sua profissão. Fiquei desde então impressionado com um documentário feito por David Casas sobre a vida que Fandiño levava. Vivia nessa ocasião numa finca de um amigo e era um mais entre os trabalhadores dessa ganadaria. Dava de comer aos touros, ajudava nas fainas camperas, cozinhava a sua própria alimentação e treinava. Treinava feito um louco, porque sabia que tinha que estar preparado para mil batalhas.
Fez-se toureiro de Madrid e era respeitado mas, faltava esse triunfo rotundo da Porta Grande de Las Ventas que conseguiu numa atitude temerária de entrar a matar sem muleta depois de uma grande faena e que lhe assegurou a porta dos sonhos. Estava por fim a caminho de ser figura. Veio no entanto esse gesto de se encerrar em Madrid em solitário para estoquear as ganadarias mais duras do momento... e as coisas não rodaram bem.
Agora fazia a travessia do deserto para se guindar de novo aos lugares cimeiros. Aos lugares que por direito próprio lhe pertenciam.
Ontem nessa pracita dessa França (que tão bem sabe acolher os toureiros) de Aire Sur L’Adour, depois de cortar uma orelha ao seu primeiro, foi derrubado num quite no touro de Juan Del Álamo, de Baltazar Ibán que o corneou no chão e depois levantou. Enfermaria com muitas dores, uma paragem cardíaca e o hospital de Mont de Marsan. Nova paragem cardiovascular e a triste notícia. Morreu um Toureiro. Morreu Iván Fandiño aos 36 anos de idade a fazer o que mais gostava: ser Toureiro.
Todos sabemos que ser toureiro é uma profissão de auto risco, como muitas outras. Estas coisas podem acontecer. Agora, dentro do traje de luces está um ser humano que há que respeitar, independentemente de se gostar ou não da profissão que elegeu. Deplorável a falta de respeito dos antitaurinos, como aquela postagem dos anti açoreanos da Ilha terceira no facebook, dizendo que “desta vez não morreu só o touro”. Mais respeito gentalha. Mais respeito pelo ser humano e menos subserviência por uns euros, ao serviço daqueles que todos nós conhecemos.
Mas não são só os anti. Há muito dano dentro da própria Festa. Madrid é exemplo disso quando um sector manipula a opinião de 20 mil almas. Há e sempre houve duas formas de nos manifestarmos num espectáculo: quando gostamos aplaudimos, quando não, fazemos silêncio. Dizem os toureiros que é o pior com que se podem debater é o silêncio. Por conseguinte não tem razão de ser os assobios e vaiar os toureiros que jogam a vida em cada lance, em cada passe… ou porque não estão cruzados (colocados).
Iván Fandiño encontras-te essa Porta Grande no desempenho da profissão que amavas e para a qual vivias. Que descanses em Paz Toureiro.

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