domingo, 19 de junho de 2016

Alcochete - Emoção, casa cheia...e touros lidados à luz dos telemóveis

Para comemorar o 45º Aniversário dos Forcados Amadores de Alcochete e a despedida do Cabo Vasco Pinto, houve uma pouco de tudo.



Noite fria mas com um grande ambiente foi a que se viveu na castiça Praça de Touros de Alcochete. O público foi mobilizado por uma cartel bem montado, com o a atractivo da comemoração do aniversário dos Amadores de Alcochete e a despedida de Vasco Pinto à frente do grupo que comandou nos últimos anos. Se para mim o seu pai, que é da minha geração, foi um dos melhores forcados que algum dia Alcochete viu nascer, e esta é a terra onde nasceu o Grande Valentim, foram motivos mais do que suficientes para encher a praça.
A emoção começou quando a arena alcochetana foi “inundada” por quase uma centena de forcados, antigos, actuais e os que vão ser o futuro da tradição de pegar touros nesta terra ribeirinha, à qual tenham grande afecto (como agora está na moda) e a ligação de durante anos estar ao serviço da sua Rádio Local.
No entanto no meio de tanta expectativa, surgiu o inesperado e, por mais de uma vez, em especial na primeira parte, apagaram-se as luzes da praça. Foi a ocasião para entrar numa tourada, a inovação tecnológica ao serviço da Festa. Centenas e centenas de luzes dos telemóveis, permitiram que embora com poucas condições, a que Luís Rouxinol mesmo assim, toureasse o seu primeiro. O touro era da divisa de Paulo Caetano (todos os da primeira parte) e tinha alguma codícia, o que permitiu que o público delirasse com a actuação de Luís Rouxinol. Para além deste conturbado factor, a primeira parte teve pouca história, porque o touro de Diego Ventura foi algo reservado e não serviu para o toureio/espectáculo de Ventura. Igualmente faltou transmissão ao terceiro, primeiro do lote de João Moura Caetano que esperava e a actuação não foi a desjada.
Com os touros de Maria Guiomar Cortes de Moura e as características murubeñas, com aquela nobreza e trote suave, mudou a face do espectáculo. Luís Rouxinol, depois de ter sofrido uma colhida contra a trincheira porque o cavalo era novo, a primeira vez que toureava à noite, agarrou-se, e permitiu que o touro o colhesse e quase projectava o cavaleiro para dentro da trincheira. Rouxinol foi buscar o mais profundo da sua casta e conhecimentos do toureio, para arrancar literalmente uma portentosa actuação. Citou de frente, andou com o touro em galopes a duas pistas, recreou-se nas sortes e terminou com um ferro curto e um grande par de bandarilhas no centro da praça. Logicamente com algumas falhas na luz pelo meio da lide.
Ventura sentiu-se "acossado" pela lide de Rouxinol e sacou dos seus galões... e do “Sueño”, para levar o público ao rubro, sobretudo quando invertia o galope a duas pistas, metendo-se por dentro num palmo de terreno. Houve gritos de olé, o público em pé a aplaudir, e o cavaleiro/rejoneador a desmontar na arena para agradecer a ovação.
João Moura Caetano tinha uma missão difícil: superar estes dois galos do toureio. Manteve-se fiel ao seu conceito de toureio - vale mais o original não sendo óptimo, do que copiar estilos alheios para chegar ao público, mas que nunca são os originais.
Deu distância ao murube, citando de praça a praça, para deixar os compridos com a sua marca. Recreou-se nas sortes e, sobretudo, o seu touro que foi o menos franco, atacou-o com decisão obrigando-o a investir. Esteve sereno e fiel àquilo que vem procurando e sublimando ao longo das temporadas: praticar um toureio cada vez mais puro, sem grandes concessões à galeria. Chegou ao público de forma espontânea em alguns ferros de muito boa execução.
Cinco pegas ao primeiro intento foi o que vimos em Alcochete e uma à segunda, precisamente a do cabo que se despedia porque considerou que na primeira, tinha ficado de fora da cara do touro. Até no momento da despedida Vasco Pinto foi grande, como forcado e como aficionado respeitador do público que paga o seu bilhete. Foi como já afirmámos uma noite de emoções. Vimos o futuro com o irmão mais novo de Vasco a assegurar a tradição na família, António José Pinto, emocionado abraçado ao filho; António Manuel Cardoso “Nené” a fazer uma pega, com uma grande ajuda; um João Pedro Belota a fazer recordar os seus melhores tempos como ajuda do seu grupo e uma série de jovens e veteranos a dizer que, a paixão por pegar touros em Alcochete está assegurada.

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