segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O regresso de Francisco Cortes à sua praça

Por motivos jornalísticos tive que me deslocar ao norte do país. Esse foi o motivo porque esta crónica não foi escrita atempadamente. Se por um lado pode ser um inconveniente, por outro, dá para amadurecer melhor as ideias, pensar as frases onde a objectividade é primordial.
Como natural de Estremoz, onde nasci na Freguesia de Santo André e vivi até aos meus treze anos, recordo-me perfeitamente que então, os mais abastados e também os mais aficionados (conhecedores), frequentavam o café Águias d’Ouro, os de menos posses o café Alentejano.

Foi precisamente no Águias d’Ouro que me habituei a ver a família Cortes, no início digamos da dinastia que hoje chega até ao Francisco. O seu avô, o seu pai e o seu tio Afonso, o António Lapa, esse grande forcado do grupo do Nuno Salvação Barreto, eram para mim ainda tão precoce aficionado, um referencial de respeito tauromáquico. O meu pai pela sua profissão, tinha certa proximidade com as gentes do touro, o que para mim era algo de extraordinário.
Por tudo isto, fiquei extremamente satisfeito que por fim, reinasse o bom senso e que o Francisco Cortes voltasse a tourear na sua praça, quando comemora 20 anos de alternativa.
Infelizmente a bonita praça de Estremoz não encheu como seria de esperar, depois de tanta expectativa. Por coincidência com a programação das Festas? Vamos lá saber o porquê.
Um concurso de ganadarias (onde não houve prémios) com exemplares de Prudêncio (mais terciado), Cunhal Patrício, Ascensão Vaz, Romão Tenório, Torre do Onofre e Canas Vigouroux, todos a cumprirem, permitiram actuações com interesse por parte dos cavaleiros anunciados.
João Moura com toda a sua veterania, com aquilo que aportou ao toureio, com os seus conhecimentos de terrenos e distâncias como poucos, tem essa facilidade imensa de estar sempre num plano de aceitação. Nesta tarde o seu lote permitiu explanar todos esses predicados com a maestria que todos reconhecemos ao “Califa de Monforte”.
Se do primeiro está tudo dito e escrito, o que dizer de António Telles, o guardião desse toureio mais ortodoxo. Aquele toureio que nos ensinaram a ver e apreciar. As tiras, os quarteios, as abordagens ao touro com aquele classicismo que patenteou em Estremoz, podem não ir nesta linha vanguardista que inunda o nosso toureio a cavalo (aceito perfeitamente a evolução mas, com a verdade pela frente), mas é um regalo para nós aficionados de outros tempos.
Se algumas dúvidas existiam, Francisco Cortes deixou dito nas suas últimas actuações, que é um toureiro que há que contar com ele. O toureio nas suas vertentes cabem muitos conceitos, deste que verdadeiros. Francisco Cortes escreveu nas suas duas lides na arena da sua praça/ nossa praça de Estremoz, que tem o valor suficiente, o conhecimento e a sua tauromaquia definida para ombrear com todos os colegas em todas os cartéis. Pode ser um toureiro menos templado, que opta pelo movimento, pela ligação constante entre o touro e o cavalo, mas tem esse toque que motiva os espectadores a irem mais vezes às praças. Pelo simples facto de que Francisco Cortes não defrauda, que é uma pessoa de princípios que deixou expresso nos brindes que fez. Em primeiro lugar à sua família, porque disse ser o mais importante de tudo para si. Em segundo lugar porque brindou com o respeito devido o senhor Presidente da Câmara Municipal de Estremoz que o quis privar de tourear na sua praça.
Em praça os forcados de Santarém e Amadores de Alcochete. Os primeiros com pegas através de Francisco Graciosa, uma cernelha com David Romão e Luís Assis e Ricardo Tavares.
Pelo grupo alcochetano pegaram João Pedro Sousa, Gonçalo Catalão e Lourenço Barbosa.
Como não houve prémios neste concurso de ganadarias os eleitos para mim seriam Bravura, Torre do Onofre e Apresentação, Francisco Romão Tenório. É a minha opinião e vale o que vale, só que estava no meu pensamento no final da tourada quando Francisco Cortes voltava a ser feliz ao dar a volta à arena da sua Praça.


















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