sábado, 19 de setembro de 2015

Moita - Maestria, Genialidade e Afirmação.

Para os amantes da tourada à portuguesa (vulgarmente corrida à portuguesa) residia no cartel o interesse em que Paulo Caetano voltava depois de Portalegre, a ser cabeça de cartaz para assinalar na Moita os seus 35 anos de alternativa. O Cavaleiro de Almada, filho adoptivo de Monforte, repartia cartel com Diego Ventura e seu filho João Moura Caetano.
Nos últimos anos a expressão Maestro ou Mestre, tem sido na minha opinião, um pouco vulgarizada. Sem dúvida que Paulo Caetano, ao longo dos seus 35 anos de alternativa construiu uma carreira que o leva hoje a ostentar esse grau de Maestro (mestre).
“Os mestres procuram expandir e desenvolver habilidades para a resolução de problemas disciplinares, interdisciplinares ou profissionais, e as ferramentas básicas que permitem que um pesquisador em uma área específica da ciência, as artes ou a tecnologia, que permitem aprofundar o conhecimento teórico e conceptual em um campo”. 
Esta discrição aceite e reconhecida através das enciclopédias, pode aplicar-se a Paulo Caetano. Só um verdadeiro Mestre na arte do toureio, tem essa capacidade de desenvolver através do conhecimento e de ferramentas, poder resolver numa arena uma lide como lhe apreciámos no primeiro touro da sua própria ganadaria. Um touro com problemas de visão mas, encastado, colocaria problemas a alguém que não tivesse esse grau de Maestro. Esse conhecimento, esse saber estar, conhecer o problema e a forma como o resolver. Paulo Caetano teve esse poso, como dizem nuestros hermanos, essa capacidade de andar ligado e, por paradoxal que pareça, dar distâncias ao touro quando necessário, para lhe tapar esse defeito e convertê-lo em "virtude". 
O público, mesmo o menos conhecedor, entregou-se a essa Maestria do cavaleiro e valorizou o seu desempenho com fortes aplausos. O Mestre montou cátedra nesta noite especial na Moita. Com o seu segundo, um touro fora de tipo daquilo que vemos na sua ganadaria (pareceu-nos um touro mais em tipo da origem da ganadaria) fora do encaste Domecq, o ganadeiro das Esquilas deu novo toque de Mestre, quando convidou os seus alternantes (Diego e João Benito) para lidarem em trio este exemplar, que manifestamente apresentava dificuldades. 
Devemos dizer que, com excepção do primeiro que pese o problema de visão foi encastado, todos os restantes cumpriram, sendo mesmo bravo e nobre o primeiro lidado por Diego Ventura.
Depois de falar da Maestria há que falar da Genialidade. É inquestionável essa genialidade intrínseca que Diego Ventura tem e aportou ao rejoneo em Espanha. A disputa constante do ceptro do rejoneo ao Navarro Pablo Hermoso, que está consubstanciada nas variadíssimas portas grandes de Sevilha e Madrid, para além de todas as outras (o recente corte do primeiro rabo em Albacete por um rejoneador) fazem de Diego Ventura o maior fenómeno de popularidade em todo o mundo taurino. 
Diego Ventura junta por vezes o espectáculo do rejoneo com o mais ortodoxo do toureio a cavalo praticado pelos mais puristas em Portugal. A forma como tem os seus cavalos arranjados, como se arredondam nas sortes. Há como que um misto da batida e a entrada ao pitón contrário, com as montadas a levarem o touro metido como que nos vôos de uma muleta. Foram duas lides empolgantes, aplaudidas, ainda com a vantagem da recolha do seu segundo por alguma dificuldade de locomoção, correr turno. Diego acabou por encerrar o espectáculo debaixo de grande ovação, com pedidos insistentes de mais um ferro.
Posto isto vem então à Afirmação. João Moura Caetano, sendo jovem já tem uma carreira em que encontrado o conceito da sua própria tauromaquia, mostra temporada após temporada, que já não é uma promessa mas sim um caso de forte Afirmação. Prima por dar vantagem aos touros, para sempre que necessário, a ligação estar presente nas suas lides. As pausas são importantes no seu conceito de lide e a espectacularidade dos ferros ajustados com leves batidas ao piton de fora, ou os galopes a duas pistas, levam o público ao delírio. Não foi uma noite fácil estar num cartel ombreando com seu pai e Diego Ventura. Esteve à altura das circunstâncias e reclamou para si, pela constância e perseverança, que é um caso de afirmação. 
Paulo Caetano foi obsequiado na arena pelo Município, pela empresa, e a proprietária da praça. Contou com a presença nas bancadas do Presidente da Câmara Municipal de Monforte e Presidente da Assembleia Municipal numa manifestação de apoio. Durante o intervalo foi descerrada uma lápide nos corredores da Daniel do Nascimento que ficará a assinalar a efeméride. Paulo Caetano reconheceu o apoio que recebeu nos seus inícios nesta praça e da Sociedade Moitense de Tauromaquia.
Em ano de efeméride o Grupo do Aposento da Moita, voltou a encerrar-se com seis touros na sua praça com seis pegas ao primeiro intento. Sinal de maturidade, espirito de companheirismo e uma coesão no momento das pegas, que fazem com que tudo pareça fácil. Foram solistas nesta noite Francisco Baltazar, José Broega, Martin Oliveira, Bruno Inácio, João Rodrigues e José Bettencourt. Tudo isto perante cerca de três quartos da lotação da praça preenchidos com um público dispostos a desfrutar de uma grande noite de touros. 
(fotos|Planeta dos Touros)




















Sem comentários:

Enviar um comentário