sábado, 5 de setembro de 2015

Mérida – Do número do “caballito” ao toureio frontal dos portugueses

Para os portugueses como eu que nos deslocámos a Mérida, esta era uma corrida de emoções. Todos nós estávamos por dentro dos momentos difíceis que a família Tenório/Bastinhas está a passar.
É nestes momentos difíceis que se revelam os Homens de carácter, cujo profissionalismo é posto à prova de maneira inabalável. Marcos Tenório deixou dito nesta noite em Mérida, que é um grande profissional, honrou os seus apelidos e dignificou, e de que maneira, o toureio português durante aqueles vinte minutos de lide.
O toureio a cavalo ou rejoneo melhor dito em Espanha, pese as teses que hoje toureiam melhor os espanhóis do que os cavaleiros portugueses, é uma teoria meramente utópica.

Na actuação de Fermín Bohórques que aproveitou o galope justo do “Passanha”, foi ainda dos três rejoneadores, aquele que praticou um toureio mais puro, cortando no final duas orelhas.
Em Rui Fernandes reside o facto de ser um dos cavaleiros portugueses com mais experiência em Espanha, toureando com assiduidade e fazendo parte de cartéis das grandes feiras do país vizinho. Rui sabe perfeitamente o que este público quer, e está quase sempre à altura de os meter no bolsillo. Esteve lidador, toureou de frente com verdade mas deu por momentos o show para levar ao rubro os nuestros hermanos. Com um rojão certeiro e um desplante com o touro a dobrar aos seus pés, ganhou e bem as duas orelhas e teve petição de rabo do touro português que cumpriu.
Andy Cartagena que encontrou algumas dificuldades na lide do “Passanha” resumiu o seu toureio a números do “caballito” e sempre, ou quase sempre, fora do touro. Ao pinchar o touro e não estar muito certeiro com o descabello escutou aplausos.
Depois veio a “vergonha" da tarde/noite com o corte de duas orelhas por Leonardo Hernández. Não está em causa a sua lide com base em tudo aquilo que atrás ficou dito sobre o rejoneo. O que está em causa, é que cortou duas orelhas que não merecia. Foi graças ao seu bandarilheiro o português Hugo Silva, que com grande experiência nestas coisas, sacou o rojão que Hernández tinha deixado colocado nas costelas do touro. Hugo sacou o rojão tão depressa e bem, que nem o presidente, nem o público deram por isso. O touro rodou e o público pediu as duas orelhas que o presidente concedeu. Nem tudo pode valer quando há verguenza torera e profissionalismo. Quando assim é, mandam-se estas orelhas fora.
Para os jovens portugueses, tocaram-lhe os touros com mais trapio. João Telles Jr. esteve muito bem, desenvolvendo um toureio dentro do classicismo, intercalando ou outro desplante que por terras lusas também os faz. Isso causou empatia com o público que aplaudiu cada um dos seus ferros. Mexeu bem no touro, colocou-se de frente e elegeu bem os terrenos. Não tendo o touro caído com o rojão teve que descabellar e foi fortemente ovacionado.
E pela porta de toriles saiu o último dos Passanhas, por sinal o de maior trapio. Como o anterior que Telles lidou, também se desligava da montada de Marcos Tenório que, com entrega andou sempre ligado, submetendo o morlaco à garupa das suas montadas. O seu carisma de deixar tudo na praça contagiou o público que, ao longo da lide, foi aplaudindo fortemente o português (sem saber o que lhe ia na alma). Marcos Tenório foi um grande profissional deixando tudo na praça. A ligação embebendo o touro nos cavalos, para depois citar de largo, encurtar terrenos e deixar a ferragem variada entre ferros de palmo e o rematar com um ajustado par de bandarilhas. Marcos tinha o triunfo apenas na ponta do rojão. Pinchou em todo o alto e teve que rematar com o descabello. Mesmo não estando certeiro com os aços, o público com a permissão do presidente, obrigou-o a dar uma merecida volta à arena.
Em resumo, os touros de Passanha cumpriram na generalidade com aquele tranco característico do seu encaste. Tourear, tourear a cavalo, apenas vimos os portugueses. O resto resumiu-se a números do “caballito” e um presidente que foi ludibriado concedeu duas orelhas imerecidas. O maestro José Ortega Cano olhava para as bancadas e deve ter chegado à conclusão que tinha cerca de meia casa nesta primeira corrida de Mérida em que é empresário. Uma palavra de apreço para o Delegado de Polícia que se comportou de forma muito cordial no nosso acesso ao callejón no meio de tanta desorganização no que se refere à imprensa portuguesa (nós) e à espanhola.
(Brevemente editaremos um vídeo com a actuação dos três portugueses)
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