terça-feira, 10 de junho de 2014

Portalegre – Dedicação, companheirismo e muita disposição dos Forcados Amadores de Portalegre, perante a dureza dos Teixeiras

Ao contrário do que é habitual, hoje apetece-me começar por falar dos forcados, aquilo que usualmente os escribas de touros fazem quase sempre em duas linhas e no final, eu incluído.
Se elogios há a fazer nesta tourada de ontem à noite em Portalegre, eles devem ser dirigidos com inteira justiça para os Forcados Amadores de Portalegre, no ano em que comemoram 45 anos de existência. Foi bonito de se ver logo nas cortesias, lado a lado os cabos António José Batista, Fernando Coelho e Francisco Peralta. Uma imensidade de juventude, ombro a ombro com os veteranos, alguns já com os quilinhos a mais mas, com o mesmo coração e entrega total ao seu grupo.
Essa entrega e dedicação ficou patente ao longo da noite, quando os Teixeiras batiam cá a trás e apareciam os veteranos a colocar a “carne no assador”, muitas vezes colocando a sua integridade física em verdadeiro perigo. Perigo esse que ficou patente quando um dos forcados (Guilherme Caldeira) espetou uma bandarilha num braço e todos foram solidários em retirar o companheiro da cara do touro. Não importa se as pegas foram à primeira, segunda ou terceira, o que importa isso sim, foi a forma abnegada e estóica como o grupo se comportou.
A empresa Toiros e Tauromaquia apresentou um curro de Veiga Teixeira com quilos e trapio, de comportamento diverso. Manso perdido o primeiro, com um comportamento raro, investindo com a cara por baixo e como uma locomotiva para os capotes mas, indiferente aos cavalos e cites de Joaquim Bastinhas que, a muito custo, lhe deixou um par de ferros e pouco mais conseguiu o cavaleiro de Elvas. Não me lembro nos muitos anos que levo neste mundo do touro, de ver tão estranho comportamento. Muito bem esteve Joaquim Bastinhas ao não acatar o pedido do público para dar volta à arena na companhia do forcado. Ilação que o público menos entendido tem que começar a compreender. As voltas à arena em Portugal são como as orelhas em Espanha, deve haver um conjunto de circunstâncias para que sejam concedidas. Não vamos vulgarizar e obrigar os cavaleiros a fazerem aquilo que a sua consciência muito bem lhes dita, porque devem ser auto críticos.
Mas voltando aos touros gostámos imenso do segundo, um touro muito encastado, que não é o mesmo do que bravo. Touro a pedir o toureio que Francisco Cortes muito bem explanou, porque o touro não permitia dúvidas. Muito bem naqueles dois ferros à meia volta por dentro; muito bem na forma como imprimiu ritmo e ligação à sua lide fazendo arrancar a música que tardava.
Mais reservado o touro que tocou a Sónia Matias que, com o seu habitual desembaraço e alguma falta de recursos, lá foi metendo o Teixeira na “canastra” e, ao mesmo tempo, parte do público no “bolso”. Não defraudou: Sónia foi Sónia e deu tudo o que podia.
Com algumas complicações o que tocou lidar a João Moura Caetano que não prescindiu daquilo que é a sua concepção do toureio: vantagem aos touros, deixando-os vir de largo, um toureio cada vez mais assente e menos exuberante, revelador de uma maturidade que deixou na arena de Portalegre. Escusado aquele último ferro a pedido do público que nada acrescentou à sua lide.
Até pode ter chegado muito ao público a actuação de João Maria Branco, não colocamos em causa esse aspecto, mesmo que viesse a vencer o troféu em disputa (Cláudia Baptista) que muito bem foi entregue a Francisco Cortes. O que como aficionado coloco em causa, é se aquele touro que se colocava por ele        - muito bem o cavaleiro no início como o parou nos médios - saindo de todos os terrenos com franqueza, não merecia uma lide citando de frente e não tanto número de rejoneo, com os constantes galopes a duas pistas levando insistentemente o touro para tábuas (terreno que sempre que possível deve ser contrariado). É pena que não se vejam jovens valores como é o caso de João Maria Branco a terem outra postura, sendo mais carismáticos, imporem a sua personalidade e deixarem-se de tanta cópia do rejoneo que nos está a invadir. Mas o público é soberano e é ele que mantêm o espectáculo. Esta é a simples opinião de um aficionado.
Rui Guerra mostrou uma certa evolução para quem toureia tão pouco. Esteve digno na sua presença em Portalegre, com um ou outro momento que nos agradou e à altura de um touro embora encastado, tinha a sua nobreza.
As imagens da tourada





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