BOM ANO E BOA TEMPORA 2011
Passada que está a euforia legítima da jornada em Santarém, e o fim desta temporada, importa que todos os que fazem parte da tauromaquia lusa: empresários, ganadeiros, toureiros, forcados e, em especial o público, mantenham na temporada de 2011 o mesmo empenhamento.
Todos os aficionados devem estar gratos ao Dr. Moita Flores por esta sua iniciativa. É legítimo o seu contentamento e emoção na recolha das mais de 50.000 assinaturas.
Mas não nos deixemos adormecer. O futuro do espectáculo dos touros passa, infelizmente, pela vontade dos políticos que nos governam, em Portugal, em Espanha e em todos os países onde esta tradição está enraizada nos seus cidadãos. E todos nós sabemos que há sempre a tendência de não respeitar as minorias. Por isso, é importante esta petição pública na Defesa da Festa dos Touros, no aspecto político. Para além desta iniciativa da recolha das assinaturas, dos milhares que se deslocaram a Santarém, o problema é mais profundo.
Pessoalmente penso que o caminho a seguir não está na promoção de touradas em que o “cabeça” de cartaz é o bilhete quase a preço simbólico. Esta pode ser uma faca de dois gumes porque, qualquer dia, teremos os anti-taurinos a dizer que as praças só se enchem porque estamos a “oferecer” as entradas. Os bilhetes devem ter o preço justo para que os empresários possam fazer face aos encargos assumidos, salvaguardando dois aspectos: o preço para a juventude porque são o futuro da festa e dos idosos deste país, porque cada vez têm menor poder de compra.
Recordo-me da célebre iniciativa “Sou português sou Aficionado” em que na altura escrevi não partilhar deste slogan. Ser português não quer dizer que, forçosamente, se tenha que ser aficionado. A questão está no respeito, ou seja, o importante é respeitar a liberdade de cada um de poder eleger sem que seja injuriado pelos seus contrários. Um principio da democracia: respeitar a liberdade de cada um para ser respeitado. Os aficionados não têm que ter essa indicação no seu B.I. nem andar com um carimbo na testa. Ou mais grave, não ter vergonha de o ser…
O espectáculo dos touros tem, no seu interior, problemas mais urgentes para resolver - em Portugal menos - que a todos nos devem preocupar.
O touro é o pilar mais importante da Festa. Sem ele a Festa pura e simplesmente não pode existir. Assim sendo, há que começar por aqui. O ganadeiro deve seleccionar o touro com casta, com bravura, ou até essa fiereza muitas vezes proclamada pelos mais puristas e defendida por poucos ganadeiros. O touro não pode andar a passo atrás dos cavalos sem transmitir, o touro tem que ter a força suficiente para dar brilho às pegas; o touro não pode cair na praça em frente a um público que vai à procura da emoção deste espectáculo; o touro não pode cair porque com ele cai a própria Festa. É confrangedor ver um touro caído numa arena, impotente para desenvolver a sua natural agressividade pela manipulação genética a que pode ser submetido.
Os toureiros têm que o ser por vocação, não por imposição familiar ou por estar na moda. Os toureiros, dentro do conceito tauromáquico de cada um, têm que levar às bancadas a emoção, a sensação de que esta é uma profissão que não está ao alcance de todos.Os empresários, os verdadeiros empresários, têm que montar espectáculos com critério e não como se fosse uma troca de cromos. As adjudicações das praças têm que ser revistas, não se podem dar somas incomportáveis pela sua exploração. E para que tudo isto resulte é necessário, sobretudo, que o público e o aficionado, que são coisas diferentes, não se sintam enganados. Em suma, na perspectiva da próxima temporada, afectada por uma crise transversal, exige-se um esforço e moderação de todos: ganadeiros, empresários, arrendatários, toureiros e público. Na minha modesta opinião e, se calhar na da grande maioria dos aficionados, o futuro da Festa passa por aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário