sábado, 3 de outubro de 2015

López Simón – Heroísmo ou loucura?

A conhecida e emblemática frase da Escola de Tauromaquia de Madrid que diz: “Ser toureiro já e difícil, ser figura é quase um milagre”, para além do seu significado profundo e verdadeiro, pode-se aplicar a muitos jovens que sonham um dia vir a ser essa figura do toureio.
Querer ser toureiro, ser figura, pressupõe não ter uma meninice normal, não gozar a juventude como outro jovem em pleno século XXI. Este é um princípio assente num mundo de sacrifícios. Viver 24 horas por dia para o toureio e pensar no touro.
É lógico que estamos já muito longe dos maletillas que de lio às costas, procuravam um lugar numa tapia de uma ganadaria para tourear ½ bezerra, ou então, andar pelos pueblos para tourear em capeas. Hoje parece-nos como que uma pelicula a preto e branco. Com o aparecimento das escolas de toureio esse mundo de romanticismo terminou. As escolas proporcionam uma aprendizagem e meios que hoje, ao vermos um jovem novilheiro, muitas das vezes nos parece estarmos na presença de um matador de touros. Há também o risco de um toureio estereotipado, como que fotocópias que nos levam à monotonia. Tudo isto aliado muitas vezes às ganadarias em que falta a casta, essa bravura que distingue o touro bravo de qualquer outro animal.
Este ano de 2015 foi um ano anacrónico, com muitos toureiros novos a despertarem o interesse dos aficionados, já fartos de ver sempre as mesmas quatro ou cinco figuras que ocupam os lugares de relevo nas grandes feiras.
Dentro desse lote de jovens matadores de touros, está um nome: López Simón, que tomou a alternativa em 2012 em Sevilha, caindo depois no esquecimento das empresas. Esteve quase a abandonar o sonho da frase lapidar da escola madrilena.Têm triunfado e pago esse tributo com cornadas graves. 
Nesta Feira de Outono de 2015 em Madrid, López Simón voltou a triunfar, a abrir a Porta Grande mas de novo como o tributo do seu sangue. Depois de colhido no seu primeiro touro, com uma cornada que lhe atingiu o recto e os testículos, López Simón acabou a lidar o touro e cortar-lhe uma orelha com petição da segunda. Já na enfermaria para ser operado pelo Dr. Pradós, assinou o termo de responsabilidade médico e saiu da enfermaria para tourear o seu segundo touro e voltar a cortar outra orelha. A sua terceira Porta Grande desta temporada, ficando a uma da mítica meta do Maestro César Rincón, quando em 1991 saiu quatro vezes pela porta dos sonhos e se colocou como figura e rico.
Há quem considere um acto heróico de López Simón. Outros há que consideram uma bendita loucura. López Simón tem essa capacidade de por vezes abandonar o corpo para interpretar essa arte que leva dentro, suportada por um valor imenso e capaz de entregar a própria vida aos pitóns de um touro. Nunca escondi a minha predilecção pelo toureio a pé ao longo da minha vida de aficionado, mesmo vivendo num país onde predomina o toureio a cavalo. Por isso posso incluir-me nesse segundo grupo. Bendita Loucura a de este jovem matador de touros que veio dar um forte safanão no mundo taurino.

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