sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

"Pobre Feira de Sevilha" - Os grupos e o corporativismo

(As actuais primeiras figuras dizem NÃO a Sevilha - foto-mundotoro)
Não é de agora a influência de grupos e classes profissionais que por vezes actuam de forma despropositada, olhando apenas para o seu umbigo e esquecendo o futuro, como é o caso que a Festa vive em Espanha e que, de uma ou outra forma, tem reflexo no Mundo Taurino.
Nuvens negras pairam sobre a capital do Guadalquivir. A actual “guerra” de interesses entre as primeiras figuras do escalafón e a Empresa Pagés/Canorea sobre os cartéis da próxima Feira de Abril em Sevilha, são dissecadas ao pormenor pelos media da especialidade. Uns que sim… que as figuras têm razão. Outros que as empresas não podem fazer mais do que aquilo que fazem sem o apoio do colectivo. Ou seja, todos se queixam mas poucos querem dar um passo em frente para defender o futuro da Festa cada vez mais ameaçado, não só pelos antitaurinos senão pelos próprios intervenientes no espectáculo.
Os ganadeiros dizem-se os mais prejudicados mas, na verdade, há um número exagerado de ganadarias (novos-ricos) sem tradição nem conhecimento, que optaram todos pelo mesmo encaste, em detrimento de encastes que deixámos de ver nas principais feiras de Espanha nos últimos 15/20 anos. Isto porque as figuras ou “figurões”, optam pelo encaste Domecq, o que lhes dá mais garantias, mas por vezes a proporcionarem espectáculos deprimentes com as caídas dos touros, manipulações de todo o tipo etc., etc. Diga-se em abono da verdade, que houve gestos como de Talavante (Madrid com Victorinos) ou El Juli (Sevilha com Miura), mas que são a excepção à regra.
Isto já para não falar que os cartéis são sempre sota, cavalo e rei, ou seja, Morante, Talavante, Juli, Perera e Manzanares, sem abrirem o abanico a outros encastes e outros toureiros. Por uma questão de solidariedade da qual não duvidamos, deram oportunidade a Padilla de entrar nos "seus cartéis", mas também com um grande retorno nas bilheteiras, porque o público queria ver o herói feito toureiro, depois da tragédia. Cabe a estes senhores (que já estão milionários), com todo o respeito pela sua profissão, cuidar do futuro da Festa, deixem-se de G10, deixem-se de “braços de ferro” porque senão, sem a necessária renovação e ultrapassar este tempo difícil, isto é mais uma ou duas décadas e todos nos vamos lembrar deste espectáculo apenas em vídeo.
Não é necessário recuar muito no tempo, quando as figuras de então lidavam outros encastes e, sempre que aparecia um novo valor, eram as ditas figuras que com eles queriam alternar, para discutir a sua posição de Figura com os novos valores. Hoje, por hoje, essa hipótese quase não existe. Quantos e quantos bons toureiros ficam pelo caminho por falta de oportunidades de entrar em cartéis de feiras importantes. Hoje têm que ir a Madrid, numa só tarde para resolverem o seu futuro, quando o resolvem… ou então rumar a França, onde quem manda é o aficionado e não os empresários/apoderados.
Agora chega-nos a notícia do corporativismo no Perú, onde um sindicato de profissionais tenta cortar o passo ao português Nuno Casquinha, não por ter toureado uma corrida sem picadores, mas porque se está a tornar incómodo para alguns. Porque triunfa mesmo em praças do fim-do-mundo, mas às quais a imprensa peruana está atenta.

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