Ao ver nos últimos fins-de-semana a presença de grupos de forcados portugueses em Atarfe, veio-me à memória este episódio rocambolesco mas verdadeiro.
Já lá vão bem mais de trinta anos, fazia eu parte da direcção da Tertúlia Tauromáquica do Montijo e, por essa altura, estavam na moda os forcados portugueses em Espanha. A pega de Eurico Lampreia em Madrid tinha sido divulgada por todas as televisões, e foi o melhor meio de divulgação dos forcados em Espanha. Pegavam não só nas corridas mais modestas como nas grandes praças e feiras de Espanha.
Por essa altura, o meu falecido irmão, passava as temporadas de verão em Madrid. Ali mantinha contactos com toureiros e empresários e colocava a pegar no país vizinho grupos como os de Montijo, Alcochete ou Moita.
Uma noite telefonou-me para que, no dia seguinte, o grupo da Tertúlia do Montijo estivesse em Arroyo de La Luz para pegar dois toiros numa corrida mista.
Como eram só dois toiros (na maioria dos casos novilhos para rejoneadores), resolvemos e dado o pouco tempo de que disponhamos, levar só oito forcados e dois carros chegavam.
Depois de falar com os meus colegas de direcção, ficou decidido que iria eu com o meu Simca 1100 e o Francisco Soeiro com o seu Renault.
No dia seguinte lá fomos nós até Arroyo de La Luz , pueblo localizado entre Valência de Alcântara e Cáceres.
Como era meu hábito nestas andanças, tinha sempre o cuidado antes de arranjar hotel ou residencial para o necessário descanso e posterior fardamento dos forcados, ir a um bar ver se estavam expostos os cartéis das corridas e, na realidade lá estava o cartaz onde se podia ler: Los valientes forcados portugueses de Montijo. Posto isto, era o ritual de ir ver a praça e os toiros, quando isso era possível.
Qual não foi o nosso espanto quando chegámos à praça e esta estava a ser desmontada. Perguntei o que se passava. Porque estavam a desmontar a praça se estava anunciada corrida para aquele dia. A resposta que obtive foi simples: no dia anterior registou-se um llenazo e o empresário não pagou a ninguém e tinha fugido. Por esse motivo a praça ficava retida pelo Ayuntamiento e seria vendida para pagar aos lesados, caso não fossem satisfeitos os compromissos por parte do fugitivo “empresário”. A nós, cabia-nos apresentar a queixa no Ayuntamiento. O que fizemos na companhia do bandarilheiro Adolfo de Lafuente, um homem bem conhecido dos portugueses por ter integrado a quadrilha do malogrado José Falcão, e que participava nessa corrida às ordens de um novilheiro.
A queixa foi apresentada…mas os prejuízos até hoje, suportámo-los nós, eu e o Francisco Soeiro. Moral da estória: lá como cá há bom e mau!
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