segunda-feira, 3 de julho de 2017

Santo António das Areias – Triunfo de Marcos Tenório e alguma desilusão com os touros de São Torcato

Alguns iluminados a boca pequena, criticaram o anúncio neste cartel de Fernando Roca Rey, especulando que era a forma de iludir o público. Nada mais incorrecto. Fernando Roca Rey é um matador de touros peruano de alternativa que, tem como irmão o “ciclón” peruano Andrés Roca Rey. Se passarmos os olhos pela história do toureio, em especial em Espanha, José Gomes Ortega “Gallito” o irmão menor de “El Gallo” o “divino calvo”, foi a grande figura daquela época, não deixando de se anunciar o seu irmão maior. Manolo Bienvenida e Pepe Bienvenida é outro dos exemplos ou, mais recente, Juan António Ruiz “Espartaco” e o seu irmão menor que se anunciava como “Espartaco Chico” que chegaram a tourear na Moita.
Para mim como aficionado, a empresa teve a coragem de anunciar na pitoresca praça de da bonita localidade de Santo António das Areias, em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, um cartel com muita dignidade numa corrida mista que, infelizmente, cada vez se vê menos em Portugal.
Os touros de Joaquim Alves (São Torcato) não foram os colaboradores necessários para o triunfo dos toureiros e o piso da arena, uma autêntica praia, ainda mais prejudicou.
Rui Salvador esteve digno no primeiro e, com o segundo - algo descoordenado dos quartos traseiros - mesmo assim permitiu o melhor da presença de Rui, com entradas ao pitón contrário a deixar os ferros com rigor, pese alguma dificuldade depois da batida por parte da montada.
Marcos Tenório que recebeu o seu primeiro com uma égua nova de saída, esteve à altura daquilo que o touro lhe permitiu. Faltou ao de São Torcato mais remate nas investidas, coisa que o cavaleiro de Elvas compensou com a sua entrega. Foi contudo perante o segundo - para nós o touro mais potável do “encierro” de Joaquim Alves – com que Marcos Tenório teve uma actuação redonda. Fiel à sua tauromaquia, com um conceito de toureio feito de entrega, muita ligação na lide, emoção e verdade que colocou pela frente. Para além do toureio frontal, Marcos desfrutou e levou emoção às bancadas com os galopes a duas pistas e, por vezes, a inverter esse galope por dentro num palmo de terreno. Se nesta noite houve um verdadeiro triunfador ele tem um nome: Marcos Tenório “Bastinhas”.
Os dois touros que tocaram em sorteio e Fernando Roca Rey, foram a contra estilo, num espectáculo onde não há a sorte de varas e apenas a colocação das bandarilhas que não são o suficiente para temperar o génio ou a falta de casta. Perante o primeiro, algo brusco, Fernando de perna flectida tentou alargar-lhe as investidas, mas o touro apenas apertava menos pelo lado esquerdo. Foi pela esquerda que lhe sacou os primeiros muletazos, em que mesmo assim, o touro saia com a cara por cima e a pontear na muleta. Notou-se que este Roca Rey está toureado, que tem muito campo e sítio. O segundo foi um touro impossível se quer de tentar algo mais do que uns passes de tenteio, pois ficava-se ao meio das investidas, buscava o toureiro e saia com a cabeça pelas nuvens. Muito mérito para Fernando Roca Rey colocar-se frente a touros com estas condições.
Para os forcados os touros não apresentaram dificuldades de maior. O grupo de Arronches pegou o primeiro através de Fábio Rita à primeira tentativa e o segundo através de Duarte Gato, que também pegou à primeira mas recuou em demasia, fechando-se já dentro do grupo junto às tábuas. O grupo de Coimbra pegou à primeira por João Eusébio e o seu segundo à quarta tentativa em dobra a Ricardo Matias que se lesionou na primeira tentativa.
Dirigiu com critério (e muita paciência na recolha do touro com a corda) Marco Gomes assessorado pelo Dr. José Guerra. Em noite agradável a assistência foi apreciável com a presença de alguns espanhóis, uma Peña Taurina de Valência de Alcantara, o maestro José António Campuzano e os ganadeiros Joaquim Alves, o ex-ganadeiro Góis e Pontes Dias, que vimos entre a bancada e a trincheira.


























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