sábado, 15 de julho de 2017

Campo Pequeno - Regresso de Pablo dos "velhos" tempos e a magia do toureio de Manzanares

(Merecida volta em ombros e divisão de opiniões na saída pela Porta Grande)
Não pode existir um mano-a-mano entre duas formas de toureio. Como bem explicou o Maestro (Mestre) Mário Coelho no colóquio com que se iniciou esta noite memorável. Colóquio cujo tema "O que é ser Figura" se falou de ser ou não Maestro (Mestre) e se "enfrentaram" egos nos extremos da mesa. Mas adiante. Mário Coelho com clareza deixou dito em palavras sábias, que a base do toureio consiste na triologia: parar, templar e mandar, e isso, só no toureio a pé se pode conseguir, não num tércio de bandarilhas e muito menos no toureio a cavalo ou numa pega. Dito isto e por quem sabe do que fala, não pode existir competição entre um rejoneador e um toureiro a pé, como foi o caso de Pablo e Manzanares.


Pode isso sim, ao juntar-se num cartel duas figuras (toureiros consolidados ao longo das temporadas... e não com uma única) proporcionar um noite de emoções pelas lides de Pablo Hermoso e pelo toureio elegante de Manzanares. Um toureio feito de temple, de muletazos a fazerem parar os ponteiros dos relógios. Com a estética de cada lance ou muletazo de "barbilla en el pecho", de compasso aberto, carregando a sorte e com o mando de "muñecas" sublimes no lancear dos trastes de tourear.
Ao Campo Pequeno depois de algumas passagens menos conseguidas, voltou o Pablo Hermoso de Mendoza. O "velho" Pablo que trazia louca a afición portuguesa, com as suas lides "bebidas" nas águas de Monforte e sublimadas ao extremo. Noite memorável para o de Estella que se colocou de frente, entrando ao pitón contrário, consentindo e rematando os ferros ao estribo. Desfrutou com os galopes a duas pistas, com os recortes por dentro ou com as piruetas. O sorriso estampado no rosto dizia-nos tudo. Pablo reencontrou-se consigo e com o seu público do Campo Pequeno. Tudo com a excelente colaboração dos touros de António Charrua, com volta merecida para o ganadeiro.
Dos touros espanhóis que vieram para José Maria Manzanares, faltou o de Nuñez del Cuvillo, substituído por um de Benjumea e lidou-se os de Garcia Jiménez e Juan Pedro Domecq.
Foi um abanico de toureio de Manzanares, esse que ainda hoje se cantam nas suas faenas de Madrid (a Dalia de Victoriano del Rio) ou Sevilla (2012 com a Puerta del Príncipe), entre outras mais do seu historial de Figura do Toureio.
Manzanares esteve variado com o capote desde largas de joelhos em terra, chiquelinas com a marca "Manzanares", verónicas relantizadas, levando o touro embebido no capote ou os remates com reboleras de sabor "añejo". Mas foi com o quarto da noite que Manzanares pôs o Campo Pequeno de "boca-a-bajo". Faena daquelas que toureiro e aficionado desejam. Sapatilhas atornilladas na arena, embebendo o touro nos vôos da muleta que sacava à frente, relantizava na investida e ajustava-se em cada muletazo. Faena com séries por ambos os pitons, que rematava com esses passes de peito levando o touro pela frente para sacá-lo pela "ombreira” da jaqueta. Um delírio nas bancadas com o toureio a pé, no "reino do cavalo".
Ser figura não é só no toureio, é também na generosidade, e isso demonstrou-o Manzanares depois de parte de faena ao 6º de Juan Pedro Domecq em que carinhosamente convidou o novilheiro português “Cuqui” não só a intervir num quite, como em parte da faena de muleta. Bem esteve o delegado técnico ao não permitir que fosse Joaquim Ribeiro "Cuqui" a simular a estocada. Fê-lo Manzanares sem a "odiosa" bandarilha, mas com a mão, simulando a receber como tão bem executa.

Os forcados de Montemor com uma pega à primeira, outra à segunda e uma à quarta tentativa, completaram o cartel.
Lamentável a divisão de opiniões na volta em ombros de Manzanares e a saída pela Porta Grande, num país em que não se cortam orelhas nem se executa a sorte suprema. Tudo permitido por um regulamento que pode ocasionar situações destas, em que até Manzanares não se sentiu confortável.



























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