quinta-feira, 3 de março de 2016

O toureio de ontem e de hoje através de Esplá e Vitor Mendes

Confesso que são muitas as vezes em que me encontro a fazer uma retrospectiva dos tempos passados na Festa dos Touros. Não por saudosismo mas, porque como tudo na vida, também na Festa, devemos ter termos de comparação, sobretudo na exigência.
É óbvio que os tempos são outros, são muitos mais os meios de oferta nas várias vertentes dos espectáculos e o dos touros, pouco evoluiu. Há agora como que um tomar o pulso à realidade com que somos confrontados quando decidimos ir a uma Praça de Touros.
Mendes, El Soro e Esplá
A televisão só por si – como descobriu o Maestro Manuel dos Santos nos anos sessenta – é um poderoso instrumento de divulgação da Festa. Infelizmente nem sempre utilizado da melhor maneira.
Vem tudo isto como elemento desta despretensiosa prosa, porque há uns dias vi no Canal Toros|Movistar, um programa em que Manuel Molés entrevistou Luís Francisco Esplá.
Tive o privilégio de conhecer Luís Francisco Esplá e o seu irmão Juan António Esplá, quando novilheiros que foram ao Montijo, ainda pela mão de seu pai Paquito Esplá. Mais tarde viríamos a cruzar-nos na vida, quando José Maria Hurtado “El Chocolatero”, então director em Portugal da MAFRE, com o meu querido Amigo Vitor Escudero, trouxeram a Lisboa uma exposição de pintura de Luís Francisco Esplá. Sempre considerei o toureiro alicantino, como uma personalidade pouco comum neste mundo dos touros. Toureio honrado, alma de artista e com uma facilidade de expressão e pensamento extraordinários.
A entrevista foi deliciosa. Foi uma viagem pela tauromaquia da época de ouro até aos dias de hoje. Retive em especial uma comparação que Luís Francisco fez e tão simples quanto isto: Dizia ele “No meu tempo os que começavam a romper no escalafón de matadores, nem à mesa das figuras se sentavam para tomar um café. Era preciso alcançar um certo patamar para poder fazer parte desse grupo restrito. O pátio de quadrilhas era sombrio, em que cada um se colocava no seu canto. Trocavam-se miradas de arrepiar e proferiam-se palavras quase intimidatórias”.
Quando questionado sobre os tempos de hoje disse que “no pátio de quadrilhas hoje os toureiros trocam beijos entre si, e aquilo parece um salão de festas com tanta gente”. Isto é sintomático de como as coisas mudaram nas duas últimas décadas.
Manolo Molés propôs a Esplá que, com uma simples palavra, definisse cada um dos toureiros que ele citaria. Aos muitos que respondeu logo de rompante, dois houve em que levou mais tempo. Primeiro Pedro Moya “Niño de la Capea, o outro Vitor Mendes. Afirmou sobre o português: “foram muitas tardes, muitas coisas que passámos juntos mas, defino Mendes como “Coragem”.
Então recordei-me disto como sinónimo dessa coragem que Mendes sempre teve como profissional, dentro e fora da praça. Estava o Vitor no activo, em plenitude das suas faculdades e a encabeçar o escalafón, quando um dia lhe disse: ouve lá, tu já vistes que estás diferente na maneira de falar e reagir? Mendes respondeu-me: É verdade Fernando, por vezes não me dou conta disso, mas estou consciente que tive que mudar a minha forma de agir. Sabes, disse-me: esta profissão é tão dura e um português como eu metido nas principais feiras de Espanha, se não espevita é “comido” por aquelas feras. Referia-se aos que mandavam no toureio por aquela altura.
Apenas uma reflexão e nada mais do que isso.


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