quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Tertúlias Tauromáquicas em Portugal (III)


(...) Num outro período da história recente das Tertúlias em Portugal, estas agremiações uniram esforços para prestar homenagem ao primeiro matador de toiros português, Diamantino Viseu, aquando das comemorações dos seus 50 anos de alternativa. Foi graças ao empenho e sensibilidade dos dirigentes das tertúlias, clubes taurinos ou grupos tauromáquicos, que todos os eventos tiveram um brilhantismo inusitado, não só na sua organização como na presença massiva dos seus associados em todos os actos, em muitos deles tendo Diamantino Viseu ao seu lado a grande Amália Rodrigues.
Se na sua essência está a defesa, valorização e promoção de tudo o que diga respeito ao mundo do toiro, que vai da sua criação, selecção e lide naturalmente na corrida ou tourada, como lhe chamamos e bem no Alentejo, que leva todos os anos às praças a maior assistência a um espectáculo depois do futebol, é natural que nos programas das direcções das tertúlias constem não só assistir às corridas, como promover o debate, organizar conferências e palestras e apoiar toureiros, ganadarias e grupos de forcados.
Seria fastidioso enumerar todas as Tertúlias ou congéneres que existem em Portugal sem correr o risco de omitir algumas. No entanto, não deixarei de referir meia dúzia delas como a Tertúlia Setubalense com as suas iniciativas e prémios atribuídos nas corridas realizadas na Praça de Toiros Carlos Relvas, a Tertúlia “A Toireira”, que me lembra o meu amigo Bacatum, seu grande impulsionador; a Tertúlia Tauromáquica do Montijo como grande Escola de Forcados que depois se espalhavam por outros grupos; o Aposento do Barrete Verde de Alcochete, fundado nos anos 40 por iniciativa do jornalista André dos Santos, ao mesmo tempo dinamizador das Festas do Barrete Verde e das Salinas, e que possui um Museu Tauromáquico com um valioso espólio do cavaleiro José Samuel Lupi.

O papel que vem desempenhando a Tertúlia “O Piriquita” na promoção e intercâmbio de Escolas de Toureio de Portugal, Espanha e França, permitindo assim que os jovens aspirantes a matadores de toiros possam actuar nestes países; O Clube Taurino Vilafranquense, guardião da lezíria de Vila Franca e cujo labor com a Escola de Toureio José Falcão é inestimável.
Gostaria de abrir aqui um parêntesis para referir outros espaços que não sendo tertúlias legalmente constituídas, eles inserem-se no mais restrito âmbito do termo: Os cafés que tiveram muita importância no relacionamento dos aficionados e agentes da festa.
Podemos recordar em Lisboa locais como o Leão d’Oro, o Café Gelo, a Mexicana, O Bocage ou o Martinho da Arcada.
Em Évora concerteza que o Café Arcada da Praça do Geraldes, foi local de encontro de muitos aficionados, ganadeiros e forcados.
Recordo no Montijo o Café Central, onde se reunião Isidoro Maria de Oliveira, António José Salgado, António Rasteiro, António Tavares, Joaquim Lucas entre outros, e dos quais nasceu a ideia de construir aquela que é hoje a Monumental Amadeu Augusto dos Santos.
Em Coruche, o Café Coruja, onde faziam tertúlia os irmãos Badajoz, José Simões e António José da Veiga Teixeira com aficionados, forcados e bandarilheiros.
E sem esquecer o Café Central da Golegã, local de encontro de Manuel dos Santos, de Mestre Patrício Cecílio, dos Veigas ou Coimbras ou da família Sotto Barreiros.
 Por certo que muitos outros locais tiveram igual importância naquilo que hoje são as Tertúlias como agremiações de aficionados.
Podemos depois navegar pelo Atlântico e falar da Tertúlia Tauromáquica Terceirense que, na Ilha Terceira, é referência não só para os terceirenses como para os próprios aficionados do continente. O seu empenho na realização das corridas de toiros das Sanjoaninas, a sua luta pela sorte de varas nos Açores, os seus colóquios e palestras com as maiores personalidades das artes, letras, toureiros e ganadeiros de Portugal e Espanha, e a sua influência em levar até aos Estados Unidos, mais concretamente ao Estado da Califórnia o espectáculo dos toiros, onde existem ganadarias de açorianos e os seus grupos de forcados.
Para além da Tertúlia Tauromáquica Estremocense, da Tertúlia Tauromáquica do Alandroal, fundou-se também a Tertúlia Nª Sr.ª do Rosário em Sousel.
Isto é sintoma de que, cada vez mais, no Alentejo está bem vivo o espírito do associativismo taurino, bem como um maior número de grupos de forcados que, no seu conjunto, e com os cavaleiros e ganadeiros dão uma importância fundamental a este região no campo da tauromaquia nacional.
Tudo isto só é possível com a iniciativa dos aficionados e o apoio incontornável dos autarcas. Numa altura em que alguns autarcas renegam as suas tradições e cultura proibindo os espectáculos dos toiros ou demolindo praças, o Alentejo e os seus autarcas dão o exemplo e têm orgulho de serem portugueses, não se deixando influenciar por modas ou leis que nos querem impor desde Bruxelas.
Presidentes de Câmara como os de Elvas, Évora, Redondo e Estremoz (restaurada) respondem com novas e modernas praças de toiros. Só com entidades como estas, podemos afrontar sem medo os detractores da Festa.
Como aficionado estou-lhes imensamente agradecido pela sua valentia e coragem em pegarem o “toiro pelos cornos”, correndo riscos mas conscientes que estão a defender um património multissecular. Bem-hajam!
Termino assim este ano de 2014 com este artigo de opinião, uma forma de prestar homenagem a todos os aficionados, tertulianos ou não, que mantêm acesa a chama da Festa. Um Bom Ano de 2015. Fernando Marques

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