Este é um artigo de opinião e despretensioso, que eventualmente pode
conter imprecisões, cuja finalidade é contribuir, de alguma forma, para a
divulgação da Festa que amamos e defendemos.
Que eu tenha conhecimento, não há nenhum
estudo académico ou mesmo jornalístico que aprofunde a existência das Tertúlias
Tauromáquicas em
Portugal. Há sim, um ou outro olhar mais ou menos atento
sobre este tema, publicado em jornais ou revistas da especialidade, mesmo assim,
abarcando um universo muito restrito.
Para nos situarmos devidamente, será bom
começarmos por definir o termo Tertúlia que nos diz ser: “na sua essência, uma reunião de amigos, familiares ou
simplesmente frequentadores de um local, que se reúnem de forma mais ou menos
regular, para discutir vários temas e assuntos”. Entre estes temas e
assuntos, situa-se, de facto, a tauromaquia.
Na nossa vizinha Espanha, esta forma de
reunião de aficionados aparece com o nome de Peñas Taurinas, muito antes de
aparecerem em Portugal as tertúlias formalizadas, que mais não são do que grupos
de aficionados que se cotizavam entre si para apoiarem quer toureiros locais como
de expressão nacional.
É em determinadas épocas importantes do toureio que
os intelectuais de então se acercam a este mundo e podemos citar, entre outros,
Ortega y Gasset, Manuel Machado, Alberti e o poeta que cantou nestes versos o
mundo dos toiros como nenhum outro, como foi Frederico Garcia Lorca.
Às
cinco horas da tarde.
Eram
cinco da tarde em ponto.
Um
menino trouxe o lençol branco
às
cinco horas da tarde.
Um
cesto de cal já prevenida
às
cinco horas da tarde.
O
mais era morte e apenas morte
às
cinco horas da tarde.
O vento arrebatou os algodões
O vento arrebatou os algodões
às
cinco horas da tarde.
E
o óxido semeou cristal e níquel
às
cinco horas da tarde.
Já
pelejam a pomba e o leopardo
às
cinco horas da tarde.
E
uma coxa por um chifre destruída
às
cinco horas da tarde.
Os
sons já começaram do bordão
às
cinco horas da tarde.
As
campanas de arsênico e a fumaça
às
cinco horas da tarde.
Pelas
esquinas grupos de silêncio
às
cinco horas da tarde.
E
o touro todo coração ao alto
às
cinco horas da tarde.
Quando
o suor de neve foi chegando
às
cinco horas da tarde,
quando
de iodo se cobriu a praça
às
cinco horas da tarde,
a
morte botou ovos na ferida
às
cinco horas da tarde.
Às
cinco horas da tarde.
Às
cinco em ponto da tarde.
Um
ataúde com rodas é a cama
às
cinco horas da tarde.
Ossos
e flautas soam-lhe ao ouvido
às
cinco horas da tarde.
Por
sua frente o touro já mugia
às
cinco horas da tarde.
O
quarto se irisava de agonia
às
cinco horas da tarde.
A
gangrena de longe já se acerca
às
cinco horas da tarde.
Trompa
de lis pelas virilhas verdes
às
cinco horas da tarde.
As
feridas queimavam como sóis
às
cinco horas da tarde,
e
as pessoas quebravam as janelas
às
cinco horas da tarde.
Ai
que terríveis cinco horas da tarde!
Eram
as cinco em todos os relógios!
Eram
cinco horas da tarde em sombra!
Vieram depois pintores, cineastas e
escritores que deram uma outra dimensão e divulgação ao toureio. Sobretudo com
Ernest Hemingway,
o jornalista e escritor, que escreveu o romance “Por quem dobram os sinos” e
que foi prémio Nobel de Literatura em 1954.
As Tertúlias Tauromáquicas em Portugal tiveram o seu início de forma espontânea
e sem estarem constituídas estatutariamente, em espaços como cafés,
restaurantes, clubes ou ateneus, e só aparecem com identidade jurídica nas
primeiras décadas do passado século. Há
no entanto notícias no Fórum de Genealogia que nos dizem, e citamos: “que o
Real Clube Tauromáquico foi fundado em 1892 e não é
feita qualquer referência a uma "refundação" posterior, o que não
surpreende pelo facto de não se tratar de uma história detalhada do Clube mas
tão só do seu enquadramento com a conhecida paixão do Rei D. Carlos pelos
toiros e pela sua própria ganadaria. Mas essa refundação terá eventualmente acontecido
– depois de 1910” .
Segundo revela Luis Filipe Marques da Gama, o clube contou desde a primeira
hora com o empenho do Dr. Carlos Zeferino Pinto Coelho, então Director da
Companhia das Águas de Lisboa e foi o escritório de seu filho Duarte Egas, no Largo
do Carmo, que serviu de sede provisória. Em 1 de Dezembro de1891 foi enviada uma circular para divulgação e angariação de sócios,
sendo a comissão promotora presidida por Vitorino de Avelar Froes, que foi
cavaleiro tauromáquico.
Essa circular era ainda assinada por Manuel e Francisco Figueira
Freire da Câmara, D. Simão Luis de Sousa Coutinho, João Fletcher Júnior, João
de Saldanha Ferreira Pinto, Manuel de Castelbranco, Ruy Rebello de Andrade,
Jorge Rebello da Silva, Ayres d' Ornellas de Vasconcelos, António Perestrello
de Vasconcellos e Duarte Egas Pinto Coelho.
A 9 de Janeiro de 1892, na sala de sessões da Assembleia Geral da Companhia das
Águas de Lisboa, estando presentes 63 aficionados que constituíam a comissão
promotora do clube, foi eleito Presidente da Assembleia o Dr. Carlos Zeferino
Pinto Coelho, na ausência por motivos de doença de Vitorino de Avelar Froes,
que presidia à referida comissão.
No dia 12 do mesmo mês, reuniu-se pela primeira vez a direcção, sendo eleitos para presidente José Pinheiro, vice-presidente o Dr. Carlos Zeferino Pinto Coelho, Aires d'Ornelas de Vasconcelos (Secretário), José Ribeiro da Cunha (vice-secretário), Augusto Gomes de Araújo (tesoureiro), Manuel Figueira Freire da Camara (vice-tesoureiro) e vogal o Dr. Duarte Egas Pinto Coelho.
Em 14 de Janeiro de 1892 foi arrendado à Viscondessa de Silva Carvalho um andar na Rua de São Francisco (actual Rua Ivens) e ainda hoje aí se mantém”.
No dia 12 do mesmo mês, reuniu-se pela primeira vez a direcção, sendo eleitos para presidente José Pinheiro, vice-presidente o Dr. Carlos Zeferino Pinto Coelho, Aires d'Ornelas de Vasconcelos (Secretário), José Ribeiro da Cunha (vice-secretário), Augusto Gomes de Araújo (tesoureiro), Manuel Figueira Freire da Camara (vice-tesoureiro) e vogal o Dr. Duarte Egas Pinto Coelho.
Em 14 de Janeiro de 1892 foi arrendado à Viscondessa de Silva Carvalho um andar na Rua de São Francisco (actual Rua Ivens) e ainda hoje aí se mantém”.
Fica assim em breves traços a história
daquela que se pensa ter sido a primeira Tertúlia legalmente constituída em
Portugal.(...) continua
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