Na passada semana inesperadamente fui, aqui em Arronches, almoçar com o João Queirós e a Catarina, actualmente sem desprimor para os restantes, os pilares da revista Novo Burladero, onde há mais de 25 anos colaboro com todo o gosto.
Foi a oportunidade para colocarmos a conversa em dia. Como seria de esperar falou-se do panorama actual do toureio em Portugal, e recordámos momentos das nossas vidas como aficionados. Veio à conversa os progressos e o futuro como toureiro do Miguel, filho do matador José Luís Gonçalves. Vai daí ...fui ao baú dos meus escritos e resgatei este:
José Luís Gonçalves brinda ao filho Miguel, na sua despedida das arenas no Campo Pequeno (Foto-Planeta dos Touros) |
Confesso que, por vezes, me sinto desiludido como aficionado que já correu atrás de muitos sonhos. Sonhos de esperança, sonhos compartidos na vontade de viver e ajudar, de alguma forma, a que fossem realidade.
Muitas emoções vividas, muitos caminhos trilhados – nem sempre os mais fáceis.
Tardes de angústia mal disfarçada na penumbra de pensões e hotéis enquanto o toureiro se vestia. Medos compartidos entre o triunfo e o fracasso. Este último sempre mais difícil de ultrapassar por aqueles que então começavam. Sempre a eterna interrogação: será que sou capaz?
De tantos sonhos desfeitos, de tanta juventude desperdiçada, acabando num futuro incerto, muitas vezes sem uma profissão alternativa, tudo isto me leva por vezes à desilusão.
Mas, o sonho comanda a vida. Em cada sonho, em cada novo projecto de figura do toureio renovam-se as ilusões perdidas. Aqui confesso que, um dos toureiros que mais ilusão me despertou, ainda há poucos anos, foi o meu amigo José Luís Gonçalves. Acompanhando a sua carreira, como muitos outros amigos aficionados, vivi todos os sentimentos a que me refiro.
Aquelas tardes de Madrid fizeram-me crer que então sim: todo o caminho percorrido como aficionado, todos os medos e angústias tinham valido a pena. Só que, a realidade, é aquela que todos conhecemos. Um toureiro mais para consumo interno. Triste fatalidade…ou não (!?)
E eis que, quando começo a folhear a NB deste mês de Março, quando já cheira a início de temporada, vejo a foto do mês: o Miguel, na presença do pai José Luís Gonçalves descara-se com uma añoja. A muletita na mão esquerda, essa mão que poderia ter feito do pai uma figura do toureio, leva-me de novo a sonhar. Esperanças renovadas nesta temporada de 2005.
Mas não só pelo Miguel, para quem o futuro como possível toureiro ainda está longe, mas sim, e também, porque “nasceu” um novo Caetano, também Rivera e sobretudo Ordóñez.
Vamos voltar a sonhar porque… o sonho comanda a vida.
No final da nossa conversa, e agora que o Miguel está na Escola de Toureio de Badajoz, voltaram as ilusões (sempre eternas) e a esperança num novo projecto de toureiro. Não há pacorra...
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