Bernardo Valência numa das suas últimas actuações na sua terra |
Aí pelos últimos dos anos setenta, apareceu em Portugal, saltitando entre Vila Franca e Montijo, Bernardo Valência “El Cordóbes da Venezuela”, um personagem que, no passado dia 18, passou às arenas da eternidade, para ali continuar a dar lugar a faenas escritas em páginas que o vento já levou da memória dos poucos portugueses que dele guardam alguma recordação.
Protegido por José Samuel Lupi, que para a Venezuela tinha “emigrado” como muitos portugueses depois do 25 de Abril, Bernardo Valência teve oportunidade de tourear em Portugal algumas tardes. O empresário e saudoso amigo José Lino deu-lhe algumas oportunidades. Em Vila Franca toureou quando outro saudoso amigo como era o Bacatum, que com o Oliveira, dirigiam os destinos da Palha Blanco, também lhe deram essa oportunidade. Numa corrida ali realizada, Bernardo Valência, exímio bandarilheiro, quase ficou surdo ao ser colhido quando colocava um par de bandarilhas.
Foi ter à Barroca d’Alva e com a generosidade do campino António Figueiredo ficou a viver na sua casa.
Por essa altura, estava eu com outros companheiros à frente dos destinos da praça Amadeu Augusto dos Santos no Montijo, quando conheci e travei amizade com Bernardo. Uma noite, depois de uma corrida ter terminado, tinham-se lidado quatro touros castanhos preciosos para cavalo da divisa de João Ramalho, lembrámo-nos de, às duas da madrugada, ir à Barroca d’Alva, à casa do Figueiredo acordar o Bernardo Valência para ir tourear os touros lidados a cavalo, já que na nossa opinião de aficionados, deixariam sacar passes pelo menos pelo piton esquerdo.
Lá fomos no meu Simca 1100 a caminho da Barroca bater à porta do António Figueiredo, que acordámos e nos apareceu alarmado. Como bom aficionado que era, ficou entusiasmado e acordou o Bernardo que metemos no carro rumo à praça montijense.
Acendemos as luzes e os touros para a arena. Um a um, proporcionaram muletazos em cadência ao Bernardo Valência que, no final, beijou a terra da arena e dizia “Dios mio por que no me sale un toro así en una plaza importante”.
Uma singela homenagem para aquele que lá, onde estiver, se vai recordar por certo deste episódio.
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