Renovação

Salgueiro da Costa triunfou no Campo Pequeno (Foto-Emílio)

A Festa dos Touros tem, como nenhum outro espectáculo, o poder da renovação constante. A cada série de muletazos de mão baixa e com temple, rematados com o de peito ou com a beleza de uma trincherilla; com um cite frontal dando vantagem ao touro, levando o cavalo de frente para levantar o braço e colocar o ferro numa reunião perfeita ao estribo, rematando com garbo.

A Festa dos Touros tem esse poder de transformar a sombra e os espinhos de uma má prestação, logo a seguir com uma actuação bem conseguida, escutar-se uma ovação estrondosa, os gritos de olé e o público em delírio, esquecendo o que de mau aconteceu anteriormente.

Vem isto a conto depois da desilusão que eu, como muitos aficionados portugueses que assistiram à recente presença dos Palhas em Madrid, poder assistir ontem a uma noite de touros agradável no Campo Pequeno. Uma noite de renovação com base num cartaz de jovens cavaleiros de dinastia (Brito Paes, Moura Caetano, Manuel Telles Bastos, Marcos Bastinhas, Duarte Pinto e Salgueiro da Costa). Assistirmos a seis touros serem pegados (Vila Franca e Aposento da Moita) todos à primeira tentativa e, sobretudo, ao comportamento e trapio dos exemplares de Pinto Barreiros. Aqui à que salientar, e pese a frase estafada de ser a “mãe” das ganadarias portuguesas, lembrarmo-nos que esta mesma ganadaria, ainda não há muitos anos corria sérios riscos. Foi graças ao trabalho e afición de Joaquim Alves e da sua família, que pudemos assistir à renovação desta ganadaria.

Pinto Barreiros uma ganadaria em recuperação

Por fim, congratularmo-nos que ontem fossem atingidas as 100 mil assinaturas que serão levadas à Assembleia da República, para que este espectáculo seja considerado – porque sempre o foi – de interesse cultural nacional, graças à campanha lançada pelo Dr. Moita Flores e a que os aficionados corresponderam. Este pode ser, embora passemos por uma grave crise social e de valores, um momento de renovação na Festa dos Touros em Portugal.