segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Gestos que dignificam a Festa

Com o caminhar a passos largos para o final de mais uma temporada taurina, das muitas que já contabilizo na minha longa vida de aficionado, cada vez encontro menos motivos de interesse numa Festa amorfa, adulterada, “monopolizada” por uma meia dúzia de senhores, em que os principais protagonistas da Festa como devem ser o touro, toureiros e forcados, quase passam para segundo plano.
Vai daí, tendei encontrar motivos de verdadeiro interesse naquilo que apreciei neste final de temporada e dei comigo a chegar a esta conclusão: José Pedro Prados “EL Fundi” e Filipe Gonçalves. Perguntarão, mas que raio de relação pode haver nestes dois toureiros. Nada claro! A não ser que ambos se colocam frente ao touro para desempenhar a sua profissão.
Pois bem, ele há gestos que, por mais insignificantes que possam ser, dignificam a Festa dos Touros em qualquer parte do planeta.
“El Fundi”, toureiro que saiu da Escola de Madrid, na segunda fornada, já que a primeira de enorme sucesso se traduziu nessa que foi uma grande promessa de figura do toureio e que uma cornada fatal o levou para a glória eterna, José Cubero “Yiyo”, com Lúcio Sandín e Julian Maestro, todos com sortes distintas: morte, abandono e subalterno.
José Pedro Prados “El Fundi” apareceu com José Miguel Arroyo “Joselito” e José Luis Bote. Joselito foi figura, fez-se rico e retirou-se cedo; José Luis Bote foi vítima de uma colhida em Madrid que o afastou dos ruedos. Recordo após a sua colhida de ter sido convidado por António Briones, o ganadeiro de Carriquiri a assistir a um tentadero na sua finca de Olivença e ver o sofrimento de Bote para conseguir caminhar e poder tourear. Fui testemunha do enorme esforço que muitos toureiros fazem para superar moralmente e fisicamente as suas colhidas. A José Luis Bote vi-lhe correrem as lágrimas pela face pelas dores que sentia, só para suportar o pé dentro da bota.
Foto-Emílio 
Mas voltando a “El Fundi” e à sua despedida da Praça de Las Ventas, o público tantas vezes adverso mas sempre respeitando este toureiro talhado nas corridas duras, tributou-lhe uma tremenda ovação. A ovação do público da praça mais exigente do Mundo, nesta que era a sua última actuação vestido de luces na praça da Calle de Alcalá. Este gesto espontâneo do público de Madrid só engrandece a Festa e reconhece 25 anos de carreira de um matador de touros que andou sempre com grande dignidade pelas praças do Planeta dos Touros.
O mesmo se pode dizer quando em Portugal, em que parece que as lides e faenas não têm importância porque, ao fim e ao cabo, todas são premiadas com voltas à arena, aparece algo de diferente.
Pois bem, na Tourada à Antiga Portuguesa com que o Campo Pequeno encerrou a temporada de abonos, o gesto veio de Filipe Gonçalves, um cavaleiro modesto à procura de um lugar que merece, recusar com grande dignidade e sentido de autocrítica, a volta à arena para que era solicitado pelo forcado. Este gesto só veio engrandecer a Festa e este Toureiro.

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