domingo, 3 de junho de 2012

Conclusões à margem duma Isidrada paupérrima


Terminada a Feira de S. Isidro (Las Ventas) na maior e mais prestigiada praça de touros do Mundo, será pelo seu resultado que se pode fazer uma análise daquilo que foi esta edição, como caminha a Festa e qual o seu futuro.
Sobre a feira propriamente dita, ela constituiu um êxito de bilheteira (excepção à regra este ano) e um fracasso ganadeiro, com apenas um ou outro touro solto a fazer jus ao que deve ser o touro bravo, e não aquilo que hoje presenciamos com o monoencaste em que a cabana brava espanhola se tornou.
Dos toureios recordamos os nomes da Castella, Fandiño, Castaño, Talavante, Tejela e pouco mais, com alguns toureiros a não aproveitarem ou por falta de ambição ou por não estarem finos com o estoque na hora da sorte suprema. Em tempo de crise estas oportunidades não se podem perder. Numa feira como esta a porta grande abriu-se apenas por duas vezes para os rejoneadores: Sérgio Galán e Diego Ventura, a sua décima Porta Grande em Madrid.
Com a crise em Espanha como em quase toda a Europa, acabou-se o tempo das vacas gordas e os Ayuntamientos (Câmaras) a deixarem, por contenção nos gastos, a subvencionarem os festejos taurinos nos seus pueblos. Logo menos corridas em praças de segunda e terceira categoria com um mercado muito menor para tanto matador de touros no escalafón. Isto já para não falar nas novilhadas, onde reside o futuro e renovação da Festa.
Por Madrid passou, na nossa perspetival, um único novilheiro que pode funcionar: Gomez del Pilar.
A exemplo da zona ganadeira de Salamanca, muitas vão ser a s ganaderias que vão por acabar. Neste momento os touros como foi dito pela própria Associação, "há ganadeiros a venderem os seus produtos abaixo do preço de custo da sua criação"; outros há que estão a vender para serem corridos nas ruas e, outros pura e simplesmente, a matarem no campo ou venderem para carne. Aqui também as chamadas figuras têm culpas no cartório, porque elegeram quatro ou cinco divisas do tal monoencaste (Domecq) e não têm o gesto ou a gesta de, uma vez por outra, darem a cara com outros encastes.
Simón Casas que foi matador de touros e a quem se deve no final dos anos setenta, através da televisão francesa a promoção feita com pés e cabeça do espetáculo dos touros em França - refugio hoje de muitos ganadeiros e toureiros espanhóis que aqui toureiam os encastes que os aficionados franceses exigem. Hoje empresário de grande experiência, Simón Casas chamou a atenção para o futuro do toureio, com as escolas de tauromaquia porque a oferta é imensamente maior do que a procura, dizendo mesmo que, logo à partida, teria que haver uma seleção prévia dos candidatos a toureiros, atendendo a físico, qualidades psicológicas e artísticas para exercer esta profissão, e não ter apenas em conta o número de alunos que pesam no momento dos apoios públicos.
Esta reflexão de Simón Casas faz todo o sentido e sobre ela se deviam debruçar em Portugal os responsáveis por este sector. Até porque aqui a saída para os alunos das escolas de toureio passa em grande medida por saírem bandarilheiros. Se formos honestos nesta análise, sabemos que deste que Vítor Mendes tomou a alternativa (1981) nunca mais tivemos um matador de touros a ombrear com os primeiros do escalafón em Espanha. Houve isso sim, por vezes, uma ténue esperança de algo que por um ou outro motivo não chegou a acontecer.

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